29 julho 2012

Loreto é a cidade para onde "voou" a Santa Casa



No alto de uma colina na região de Marche, Loreto é uma típica cidade de interior com um esplêndido panorama, sendo um dos locais mais importantes da Itália. 




Cercada por muralhas, a cidade cresceu em torno da famosa Basilica della Santa Casa. A parte antiga de Loreto tem estilo medieval que contrasta com a modernidade de suas imediações, de ruas largas, casas modernas e completa infraestrutura. 



Complexo monumental da Basílica de Loreto

O ponto central de atração da cidade é o esplêndido santuário que se destaca na parte mais alta da cidade. O aqueduto e as fontes do século 16 são atrações turísticas que permitem frescor aos viajantes das estradas.




O santuário que durante séculos tem atraído milhares de peregrinos, atrai também estudiosos e pesquisadores interessados na magnífica e inexplicável história da trasladação da casa onde nasceu e viveu a Virgem Maria.

Vindo de Nazaré, passando pela Dalmácia e depois até a Itália, percorrendo uma distância mais de 2.000 km, persiste a afirmação de que no passado distante a casa sagrada teria chegado até Loreto voando num facho de luz ou pelas mãos de seres angelicais.




A construção do complexo monumental do santuário, local de devoção mariana, foi iniciada em meados do século 15 e terminou apenas no século 18 com a construção da Torre Vanvitelliana com um carilhão de 9 sinos que tocam a "Ladainha de Loreto".





Com uma fachada rica em adornos, tem destaque o campanário octognal chamado La Loreta e um enorme sino, talvez um dos maiores da Itália. A igreja forma uma cruz latina, cujo centro é coroado por uma esplêndida cúpula ornada por uma lanterna.




O interior é decorado por imagens, quadros e crucifixos, mas a maior atração do local é a Santa Casa de Loreto que é o principal motivo das peregrinações. 

Protegida por uma grade de prata, a pequena casa de pedra é simples e rústica apenas com uma antiga imagem em cedro do Líbano da Virgem Negra com o menino Jesus.  
 



A Casa de Loreto é descrita como a mais maravilhosa telecinesia da história, tratando-se de um fato sensacional que sobreviveu no tempo e intrigou religiosos, pesquisadores e cientistas. 

Os mais racionais e modernos classificam o fato como uma lenda, bem como todos os pretensos milagres que lhe são atribuídos. No entanto, ninguém até hoje conseguiu explicar as evidências dos extraordinários fatos havendo apenas suposições.

Segundo a tradição, a Imperatriz Helena se converteu ao cristianismo e convenceu a seu filho Imperador Constantino em dar liberdade à religião cristã. Já idosa, a imperatriz empreendeu uma peregrinação à Palestina no ano 324 para conhecer os locais dos episódios da vida de Jesus.

Na Terra Santa ela teria descoberto a verdadeira ou Vera Cruz onde Jesus foi crucificado, o local do Santo Sepulcro e a casa onde a Virgem Maria e Jesus viveram. 

Nos locais santos a imperatriz mandou construir capelas, mas faleceu logo depois. Depois de sua morte ela passou a ser reverenciada como Santa Helena, representada por sua roupagem nobre carregando uma cruz. 





Durante a Idade Média os Cavaleiros Templários da Europa tentaram defender a Terra Santa na Palestina, dando origem a dramáticas batalhas entre cristãos e muçulmanos. Ao final todos os europeus foram expulsos do Oriente Médio.

Durante a invasão de Jerusalém em 1291, os Mamelukes arrasaram a Terra Santa. A notícia consternou os cristãos, mas imediatamente outra notícia consoladora se espalhava por todo o mundo cristão: a Santa Casa de Nazaré havia aparecido milagrosamente nas terras dos dálmatas, atual Croácia. 

Ninguém conseguia compreender como aquela casa teria sido transportada até aquele local que ficava muito distante de Jerusalém. Na manhã seguinte, o bispo Alexandre de Modruzia que estava moribundo, amanheceu curado e sadio. A multidão proclamou sua cura milagrosa à Santa Casa de Nazaré. 

O governador Nicolau Frangipane mandou um comissão para investigar o fato na Palestina e eles constaram que no local só existiam as fundações que coincidiam com as dimensões da casa.





Segundo relatos, a Santa Casa teria
voado inteira pelos céus até chegar à Itália

Três anos depois, misteriosamente a Santa Casa desapareceu. As pessoas ficaram desoladas e o governador erigiu uma capela com uma placa: "Aqui esteve a Santíssima Casa da Bem-aventurada Virgem que apareceu em 10 de maio de 1291 e retirou-se no dia 10 de dezembro de 1294". 

Mas novamente a tristeza transformou-se em sublime surpresa: a Santa Casa tinha reaparecido à meia-noite do dia 10 dezembro de 1294, através de um facho de luz que cortou os céus da Itália. A traslação teria ocorrido em poucas horas e percorrido quase 500 km sobre o Mar Adriático,  algo impossível para qualquer embarcação daquela época.

Camponeses e pastores ficaram paralisados no bosque quando viram as árvores de loureiro se inclinando para o pouso da casa, por isso a região passou a ser chamada Loreto. Pela manhã, uma multidão veio de vários lugares para ver a casa.


Ilustres e conceituados nobres foram examinar as medidas da Santa Casa e confirmaram ser a mesma pequena Casa de Nazaré. Sem fundações, pousada diretamente sobre a terra nua, os construtores resolveram elevar ao redor da casa uma proteção de tijolos. Dias depois, milagrosamente as paredes se distanciaram da casa. 




Quase cinquenta anos depois, o Papa Clemente VII  mandou examinar todos os lugares onde a casa estivera. Foi confirmado tratar-se da mesma Santa Casa, cuja trasladação foi considerada milagrosa.

A partir disso o papa mandou o arquiteto Rainero Nerucci elevar um monumento de mármore ao redor da casa. Para seu grande espanto, contra as regras da arquitetura e contra os planos da arte humana, todas as pedras estranhas à Santa Casa estavam afastadas.

Inúmeros Papas confirmaram a verdade histórica da Santa Casa de Loreto: Papa Sisto IV, Papa Leão X, Papa Sisto V, Papa Clemente IX, Papa Inocêncio XII, Paulo II, Júlio II, Paulo III, Paulo IV em 1565 etc. 

Engajados da suprema autoridade apostólica, desde o Papa Nicolau IV em 1292 até João Paulo II em 2005, os papas acompanharam os estudos sobre a traslação da casa. O Papa Bento XVI visitou Loreto em 2007.




Nossa Senhora de Loreto
protetora da aviação e dos aviadores

Próspero Lambertini ou Papa Bento XIV foi a maior autoridade de todos os tempos em qualquer fenômeno parapsicológico, especialmente na diferenciação entre o natural e o supranormal. Profundo pesquisador dos milagres, nos anos de 1750 ele confirmou a história da Santa Casa de Loreto.  

Dizem que antes de restaurar o pavimento, os arquitetos de Bento XIV escavaram o local onde a casa estava assentada e para surpresa de todos constataram que, contra todas as leis da gravidade, da lógica e da arquitetura, todo o volume da Santa Casa esteve e ainda está suspenso no ar.

O inexplicável fenômeno do milagre da "Casa Voadora" sensibilizou os aviadores, que se identificaram com a missão cumprida pelos anjos que transportaram pelos ares tão preciosa carga, adotando Nossa Senhora de Loreto como sua protetora. 

Em 1920 o Papa Bento XV proclamou Nossa Senhora de Loreto como padroeira da aviação, dos aviadores e de todos aqueles que se lançam no ar, seja por profissão ou lazer. 




O arquiteto Nanni Monelli e o Padre Giuseppe Santarelli, arqueólogo e diretor-geral da Congregação da Santa Casa de Loreto, estiveram na Palestina e constataram em 1982 que as pedras encontradas no altar dos Santos Apóstolos em Nazaré tem a mesma origem das pedras da Santa Casa de Loreto. 

As pedras e paredes são tipicamente palestinas como também o tipo de trabalho, com uma técnica específica da cultura nabatea. Também foram identificadas nas pedras de Loreto, centenas de inscrições próprias dos judeus-cristãos da Terra Santa e semelhantes àquelas encontradas em Nazaré.

A análise química da massa que une as pedras apresenta características típicas da zona de Nazaré, feita com sulfato de cálcio hidratado e engrossado com pó de carvão de madeira, segundo uma técnica que utilizada na Palestina há 2.000 anos mas jamais empregada na Itália. E assim ela está até hoje, sendo que sua homogeneidade exclui qualquer possibilidade de uma hipotética desmontagem e remontagem das pedras. 




Fonte da praça da Basilica de Loreto 

Na Idade Média dizia-se que a casa foi transportada por um facho de luz. A versão de que a casa teria sido transportada por anjos é recente. 

De fato, um documento de setembro de 1294, recentemente descoberto, atesta que Nicéforo Ângelo, déspota do Epiro, deu sua filha em casamento com Filipe de Taranto, quarto filho do Rei Carlos II de Angió na Itália. 

A ela teria sido dado uma série de dotes de casamento, entre os quais apareciam "as santas pedras da casa de Nossa Senhora". Este dado estaria de acordo com o que afirmam estudiosos mais recentes. 

De acordo com o Vaticano, há citação de uma família Bizantina chamada De Angelis, que no século 12 salvou da destruição muçulmana a Santa Casa de Nazaré e que teria transportado o material da casa sobre um navio cruzando o Mar Adriático, indo para Loreto com a finalidade de construir uma nova Capela. 

Talvez por um erro de interpretação, tenha sido afirmado que os anjos (De Angelis) transportaram a casa passando sobre o mar e indo para Loreto. No entanto, pesquisadores concluiram que seria impossível transportar uma casa inteira sem danificá-la, já que não havia fundações e também não há vestígios de remontagem. 

Por não haver documentos e comprovações técnicas, sobreviveu a afirmação da "Casa Voadora". Muitas indagações permanecem sem resposta e explicações, mas já advertia Shakespeare: "Há mais mistérios entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia"...

A cada ano em 10 de dezembro é celebrada a chegada da Santa Casa de Loreto. Na véspera é costume acender fogueiras em diferentes partes da cidade e em muitos outros locais no mundo. Segundo a tradição, a primeira fogueira foi acesa em 1294 para iluminar o caminho dos anjos voando no meio da noite. Desde então, continua a tradição da fogueira que é acesa sempre na mesma hora.

 


25 julho 2012

Triora, Paese della Stregoneria



Passear pelos vales e montanhas da Ligúria significa descobrir e compreender como é possível ao ser humano conviver ao lado da natureza vencendo constantes desafios. 

Indo da costa em direção ao interior, inúmeras aldeias em áreas naturais, com uma riqueza de espécies animais e vegetais, revelam o que há de mais puro da Ligúria.  





No alto das colinas surge a misteriosa cidade medieval de Triora, considerada entre as 100 mais belas cidadelas medievais da Itália e também prestigiada pelo Touring Club Italia Bandiere Arancioni como um dos melhores destinos turísticos. 

Muitos escritores se dedicaram a descrever a história e a cultura de Triora. De origem muito antiga, a cidade vive entre tradições e muitas lendas envolvendo magias e bruxarias, por isso a cidade é citada como "Paese della Stregoneria" ou Cidade da Bruxaria. 

Situada próxima à fronteira Itália/França, as tortuosas estradas que lhe dão acesso são perfumadas pelo cheiro das vinhas, hortas e árvores frutíferas. 




Os portais dos palácios refletem sinais do passado, brasões das famílias que aparecem nos relevos esculpidos em pedra negra ou ardósia e esculturas com símbolos místicos de cordeiros, monogramas e outras figuras. 

Ruas estreitas, escuras e tortuosas, que mais parecem um labirinto, conservam o calçamento original feito com pedras irregulares que em nada facilitam os passeios do pedestre. Passear de carro, nem pensar.

Os veículos devem permanecer estacionados fora do centro histórico. Casarões seculares e igrejas ocultam ruas desertas e becos úmidos com abóbodas enegrecidas que nunca viram os raios do sol. 

Um silêncio que assusta, mas que misteriosamente se torna instigante. Triora deriva nome deriva do latim "Tria Ora", as três bocas do monstruoso cão Cérberus citado na mitologia grega, que aparece no brasão de armas da cidade. 




Construída estrategicamente no alto de uma montanha em torno do ano 1000, foi habitada pelos ligúrios e no século 12 era uma importante aliada da República de Gênova. 

Depois de muitos anos de lealdade, o povo foi oprimido pelos impostos que eram pagos com trigo e vinhos. Com a proclamação de independência da Ligúria, Triora chefiou a jurisdição até a queda de Napoleão em 1814.

 A cidade pertencia à França e a partir de 1860 foi transferida para o Reino da Itália. Durante a guerra de 1944, Triora sofreu pesados bombardeios dos nazistas que destruiram inteiramente alguns bairros que hoje encontram-se em reconstrução.

 Entre as construções mais importantes estão a Igreja Collegiata di Nostra Signora Assunta com sua torre sineira construída sobre um templo pagão em 1770 e a Igreja rural de São Bernardino construída fora da cidade no século 15, declarada um monumento nacional.  

Há ainda a Igreja San Dalmazio do século 13, a Igreja de Santa Catarina de Alexandria do século 14, a Igreja de Santo Antonio Abade, Igreja de São João Batista e a Igreja de San Agostino de 1614 que contém belos afrescos. 


Cidade das Bruxas

As ruínas das fortalezas, das antigas muralhas e das sete portas da cidade que eram chamadas de Castrum Vetus são plenas de mistérios. 

No cume acima da cidade, um pequeno forte chamado Locum Iustitiae hoje é usado como cemitério. 

Esse foi um local de defesa no século 12 e também onde eram executadas as pessoas condenadas à pena de morte. 

Triora evoca os ecos de uma época em que foram cometidos muitos crimes e atrocidades em nome de Deus, tendo sido realizado em Triora um dos últimos julgamentos da inquisição durante o período do renascimento. 

A fama da cidade foi criada pela memória do sofrimento a que foram submetidos muitos de seus habitantes, durante à caça às bruxas e aos considerados hereges.



Embora as bruxas sejam popularmente associadas à imagem de uma mulher velha, com cabelos desgranhados e voando sobre uma vassoura, na Idade Média não era assim. 

Qualquer mulher que utilizasse o conhecimento de cura pelas plantas, fizesse predições, apresentasse problemas do sistema nervoso, distúrbios psicológicos ou comportamento incomum para a época, por exemplo tomar banho todos os dias, era considerada ligada à bruxaria.
 
Em 1587, quando as colheitas diminuiram e a fome tornou-se devastadora, muitos consideravam que fosse obra dos poderes do mal. Inúmeras denúncias chegaram ao prefeito da cidade que entregou a questão aos vigários inquisitores.  

Muitas mulheres e meninas da Ca'Botina foram acusadas injustamente de canibalismo, sacrifício de bebês para o diabo, atos de feitiçaria e satanismo. E

Apesar de não haver provas, algumas morreram durante a tortura, outras de fome, maus tratos e uma parte delas foram julgadas e queimadas vivas.

Considerado o local onde as bruxas dançavam em seus rituais santânicos, muitas lendas são mantidas sobre as ruínas da sinistra Ca'Botina abandonada, uma área pobre onde viviam muitas mulheres em precárias condições. 

Essa diferença social e a ignorância dos que viviam amedrontados por centenas de anos, somados ao fanatismo religioso, deu vazão à tortura e condenação à fogueira das infelizes criaturas.



Lojas de artesanato

A lenda das bruxas é alimentada pelos moradores que resistem às sugestões de modernização. 

A bruxaria incentiva o turismo e faz a fortuna da cidade que atrai muitos turistas e estudiosos interessados no sobrenatural e no desconhecido que estão presentes nas lendas e mistérios que envolvem a cidade.

Muitas lojinhas vendem artigos artesanais relacionados às bruxas. O Halloween de Triora realizado em outubro é um dos eventos mais charmosos e típicos da Itália, em um cenário original de arcadas sombrias e ruelas escuras.

Ao longo dos anos, Triora conseguiu transformar essa predisposição natural em um evento atraente e único. A assustadora celebração inclui espetáculos, música, tradição e magia que se repete no Festival de Verão da Bruxaria. 




Museo Regionale Etnográfico e della Stregoneria

Esse é o lugar que reconta toda a história da cidade, suas tradições e cultura. Numa seção do museu há salas dedicadas à etnografia, cada uma representando um ciclo de vida diária, com exposição de antigas ferramentas antigas, utensílios de cozinha, forno antigo usado para assar o pães e outros. No porão é reproduzido o cenário das prisões e tórturas crueis, além de antigos documentos preservados. 




Pane di Triora

Triora também é sinônimo de gastronomia de alta qualidade, uma culinária rica e diversificada. Uma das especialidades de excelência local é o Pão de Triora que guarda seu segredo através dos séculos. 

Produzido com farinha integral é facilmente reconhecível pela sua forma redonda e achatada, com miolo de cor escura e aroma  inconfundível.

Na antiguidade os pastores passavam um longo tempo nas montanhas acompanhando os rebanhos e o Pão de Triora era um de seus alimentos, pois permaneciam inalterados e não endureciam mesmo durante vários dias. Essa é uma das principais características desse pão: permanece macio e fresco por longo tempo.




Slow Food! Triora tem especialidades únicas que devem ser degustadas calmamente com o prazer da boa mesa. Uma das especialidades de Triora é a carne de javali preparada em receitas tradicionais, acompanhada de polenta além de várias opções de boas massas.

Na região há uma grande quantidade de Lumaca (escargot ou caracóis) que são servidos nos bons restaurantes locais. A escolha do vinho se perde em numerosas opções, entre elas alguns vinhos da região que são produzidos em pequena escala, porém de alta qualidade.

No outono florescem os bosques de castanhas numa infinita quantidade, sendo colhidas menos de 10% delas. As maiores são aproveitadas em diversas e criativas combinações nas cozinhas ou distribuídas gratuitamente nos festivais.

Também no outono florescem os cogumelos, os famosos Funghi que fazem a alegria dos seus catadores. Mas é necessário saber distinguir os comestíveis dos venenosos: os mais bonitos e atraentes são justamente os letais.




Convivendo entre o sagrado e o profano, durante o ano são realizadas inúmeras festas religiosas, festivais e feiras temáticas em Triora e nas aldeias próximas. A noite do solstício de verão ou noite de São João, que é padroeiro da cidade, sempre foi uma noite cheia de magia assim como a Noite de Natal. 

Nas duas ocasiões as fogueiras queimam ao som de músicas folclóricas, com muitas comidas típicas, vinho e cervejas artesanais.  Num raio de 10 km há várias aldeias: Bregalla, Cetta, Creppo, Goina, Loreto, Realdo, Verdeggia e Monesi que são roteiros para quem gosta de descobrir lugares únicos. 

Antigos campos de lavanda, trilhas em vales e montanhas são o paraíso para os fanáticos do trekking e para aqueles que buscam uma visão interior mais profunda, dispersar o stress ou clarear as ideias.

As aldeias de Triora reúnem cabanas de pastores e camponeses, que lembram a época das tradições no campo. Realto, Verdeggia e Creppo despontam com suas construções ordenadas e alinhadas sobre impressionantes penhascos. Dali pode-se concluir que construir castelos no ar não é mera fantasia.



Loreto também está sobre um penhasco íngreme, ligando-se a Cetta através de uma ponte de 119 metros de comprimento e a uma altura de 112 metros. 

Até a pouco tempo era o local de bungee jumping, mas devido aos acidentes e suicídios, os parapeitos foram limitados por grades. 

Alpinistas ousados tentam desfrutar da escalada de suas rochas. Durante a primavera e no verão, sobre duas rodas os ciclistas exploram os muitos caminhos nas montanhas. 

Durante o inverno, Monesi se torna movimentada com sua estância de esqui. No cume do Monte Sacarello, que é o mais alto da Ligúria, o Redentor é o símbolo de proteção dos Alpes marítimos.




11 julho 2012

Bagnaia, a cidade jardim







Nas encostas do Monte Cimino, a pequena cidade medieval de Bagnaia tornou-se conhecida nos tempos medievais devido às suas águas termais. 

Situada na região do Lázio, a poucos quilômetros de Viterbo, no século 15 tornou-se a residência de verão de bispos e cardeais.






A primeira menção sobre Bagnaia é do ano 963, que antes já foi chamada de Bangaria, Balneária e por fim Bagnaia. 

A cidade, que era localizada na antiga Via Francigena por onde passavam centenas de peregrinos, mercadores, cavaleiros e exércitos que viajavam da Europa para a Roma, foi doada pelo Papa ao Bispo de Viterbo. 






Rodeada de uma natureza viva e exuberante, o crescimento da cidade começou quando o Cardeal Raffaele Riario, um parente do Papa Sisto IV, sentia que o Palazzo Episcopal era muito modesto e resolveu melhorar a cidade. No século 16 foi construída uma casa que ligava-se à parte antiga da cidade, criando assim a Città di Dentro e a Città di Fuori. 






Outros dois cardeais também se dedicaram ao desenvolvimento de Bagnaia. O Cardeal Gian Francesco Gambara, que foi bispo de Viterbo em 1566-76 e tinha laços familiares com o Farnese e o Cardeal Carlo Borromeo iniciou a Villa Lante. O Cardeal Alessandro Peretti Montalto, um parente do Papa Sisto V, completou a vila que iniciada por seus antecessores.



Villa Lante


A parte mais importante de Bagnaia é a Piazza 20 Settembre, que é a principal da cidade onde estão bares, restaurantes, sorveterias e o centro de apoio ao turista. 

Também há um mercadinho onde pode-se comprar lanches para um piquenique no parque na entrada da Villa Lante, que se tornou famosa pela relíquia de grandeza aristocrática, que na verdade é um grande jardim, um dos maiores e mais bonitos da Itália.






Na entrada da Villa há uma fonte com a estátua de Pegasus. Depois de passar a fonte e o antigo pavilhão de caça, o parque torna-se bastante selvagem, permitindo explorar bosques de árvores e fontes em ruínas. 









A base do jardim em estilo italiano foi organizada em torno da impressionante Fontana del Quadrato ou Quattro Fontana. Acima do jardim a propriedade se estende em diferentes níveis decorados. 




 





Na villa há duas moradias idênticas, uma em cada lado dos jardins. Os interiores foram mobilados de acordo com sua época. 





A loggia do nível inferior contém alguns afrescos, um pouco danificados. À medida que o jardim se eleva em degraus, a água corre através de uma variedade de fontes animadas. 





Palácios e monumentos

A parte mais antiga de Bagnaia é cercada por uma ravina em três lados e o único acesso é pelo portão no Palácio dos Bispos, por isso manteve o seu aspecto medieval. 

O Palácio Episcopal, também conhecido como Palazzo della Loggia, era originalmente o Palácio das lojas, sendo resultado de extensões da Câmara Municipal. 
 






 Os cardeais Gambara e Montalto mandaram decorar com pinturas que mostram visões das cidades de Florença, Siena e Bagnaia, cenas bíblicas, retratos de antigos papas além de episódios mitológicos, cujos temas se repetem no interior da casa. 

Importantes palácios e monumentos compõem o cenário de Bagnaia, como a Torre do Borgo, a Fontana do Castelo construída em 1618, a Câmara Municipal construída em 1515. 






Em 1576 o Cardeal Gambara promoveu o alargamento de Bagnaia, abrindo três ruas que partem da cidade velha e uma grande igreja que foi construída no seu ponto de partida. Também construiu a Capela octogonal na estrada para Santa Maria della Querce. 






No verão de 1467 os habitantes de Viterbo fizeram uma curta peregrinação a uma imagem de Nossa Senhora, que ficava ao pés de um carvalho, para pedir o fim da peste. Algumas semanas depois a peste terminou. 

Em  agradecimento pelo milagre o povo da cidade se empenhou para construir a Capela de Santa Maria della Querce ou Nossa Senhora do Rosário, que foi dedicada a San Rocco ou São Roque, provavelmente para celebrar o fim da peste, já que o santo é invocado contra pragas e pestes.  


 



As celebrações da Páscoa tem início com a procissão que serpenteia as ruas estreitas do bairro medieval e com a encenação das cenas bíblicas em 18 painéis. 

De origem antiga, desde 1618 é uma tradição de Bagnaia. Por isso, tem um significado importante para a cidade quando muitos turistas são atraídos para essa celebração.

O Festival de Trapos ocorre em agosto por ocasião das celebrações de San Rocco e consiste numa massa de macarrão caseiro que para ser cozido é rasgado com as mãos dando uma forma de um "trapo". 

O festival inclui encenações medievais e iguarias típicas, como a Porchetta ou Porco assado. Em junho ocorre a Feira de Gado.






Todos os anos Bagnaia renova a tradicional Festa de São Antonio Abate, um costume que é mantido há séculos e que o povo da cidade tem orgulho de manter a tradição. 
O evento acontece na Piazza XX Settembre e o Fogo Sagrado é mantido durante a noite. 

O Focarone é uma celebração realizada em meados do mês de janeiro e mistura o sagrado e o profano, entre a história e o mito de Santo Antonio.  Essa mistura de fé com os antigos ritos pagãos mantém-se há muitos anos. 

Conta-se que as curas milagrosas ocorreram durante uma epidemia. Entre os pacientes que vieram para pedir graças e e saúde, muitos foram atingidos pelo mal da Herpes Zoster, também conhecida como "cobreiro". Todos aqueles que tiveram de lidar com este mal pediram a purificação, permanecendo ao redor da fogueira. 






Uma espetacular fogueira acima de 5 metros de altura é construída por especialistas que conseguem que o fogo queime durante toda a noite. 

A enorme pilha de madeira é acesa ao anoitecer sob um coro de orações. Junto acendem-se os braseiros onde muitos quilos de salsichas, linguiças e carnes irão grelhar sobre as chamas e serão consumidos com o bom vinho da região. 






Em seguida há a bênção dos animais e distribuição de uma generosa xícara de chocolate quente.  Conforme o costume, no dia seguinte as mulheres recolhem as cinzas do fogo sagrado e as mantém em casa para que as bençãos entrem e permaneçam protegendo a casa e a família. 






O evento, que tem duração de 2 dias, reúne o mercadinho de antiquários, artesanato, produtos típicos, além de apresentações artísticas, cortejo medieval e show dos Sbandieratori na praça. 






09 julho 2012

Montefalco, paraíso do vinho Sagrantino



 
Montefalco é bela cidade medieval situada sobre uma colina no coração da Umbria. Antigas muralhas cercam a cidade formada por um labirinto de ruas pitorescas, torres medievais e igrejas renascentistas, que formam um cenário artístico e cultural de grande valor. 

Estando a 1 ou 2 horas das principais cidades da Umbria, de Roma e de Firenze, na cidade há todas as comodidades da vida moderna como cafés, supermercados, pontos de internet, bancos com caixas eletrônicos, correios etc.






Chamada de "La Ringhiera dell'Umbria" ou Varanda da Umbria, na época romana o burgo se chamava Coccorone e era povoado por vilas patrícias. 

Em 1249 ela foi devastada pelas tropas de Frederico Barbarossa. Ao ser reconstruída recebeu o nome atual de Montefalco, que provém da caça ao falcão que Frederico II praticava na cidade. 






Em 1446 a cidade passou para os domínios dos Estados Pontifícios até a unificação da Itália em 1861. Considerado um dos burgos medievais mais bonitos da Itália, Montefalco encanta o visitante por suas belas construções. 






Dentro e fora das muralhas, existem muitas igrejas em estilo românico, estilo gótico e no estilo renascentista. Notáveis são as portas da cidade: Porta Sant'Agostino, Porta Camiano, Porta Federico II e o Palazzo Comunale do século 13.


 



Historicamente, a Igreja de San Francesco é a mais importante e hoje funciona como Museu de Arte e Artefatos, um dos mais importantes da Umbria. A igreja é notável por seu ciclo de afrescos sobre a vida de San Francesco. 






Outras são a Igreja de Sant'Agostino, Igreja Santa Chiara, Igreja Sant' Illuminata e Igreja San Fortunato que foi construída no século 4 sobre o túmulo de Fortunato de Spoleto e renovada no século 15.




 


Com vista para o Vale de Spoleto, Montefalco oferece uma panorama deslumbrante em todas as direções. Suas encostas são pontilhadas por antigos olivais que dão origem ao excelente azeite extra virgem.







Suas vinhas produzem o famoso vinho Sagrantino que pode ser degustado nas numerosas adegas. Graças às condições climáticas e a composição do solo, as azeitonas dessa região são exuberantes e as vinhas muito especiais. 


 


 
O cultivo da videira em Montefalco vem desde a época dos romanos. O Sagrantino é um vinho especial DOGG devido às condições do cultivo das uvas que só existem nesta região da Umbria. 

O longo tempo de maturação, um período de envelhecimento acima de 30 meses, justifica seu alto preço no mercado de vinhos. O Sagrantino é tão destacado no mundo do vinho, que há o "Sagrantino Day Internacional" que é celebrado em 33 locais diferentes no mundo reunindo mais de 3.000 sommeliers.






Todos os anos na época da Páscoa, a cidade promove um grande festival chamado "Settimana Enologica ou Semana do Vinho", quando os visitantes podem apreciar os principais vinhos produzidos na região da Perugia, desde os mais simples até os mais complexos. 

Há inúmeros restaurantes na cidade e também no campo onde pode-se experimentar o melhor sabor da Umbria, com especialidades em massas, receitas com trufas e caça, regado pelo bom vinho no tradicional estilo italiano.


 


 
Vários eventos são realizados em Montefalco durante o ano, incluindo as festividades religiosas, festivais de produtos típicos e as festas que revivem antigas tradições medievais. 

Uma dessas festas é o "Palio Fuga del Bove", um evento realizado numa arena em que cada equipe deve acompanhar a corrida de um boi vencendo alguns obstáculos. É premiada a equipe que ganha a corrida.

Outro evento de grande esplendor é "Agosto Montefalchese", com apresentações artísticas e esportivas, além do show dos Sbandieratori muito usual na Itália. 
O evento "Cantine Aperte" envolve os bairros da cidade que se enfeitam para oferecer os deliciosos pratos da tradição local. 

A esplêndida Piazza del Comune torna-se um cenário encantador, com performances que envolvem o público numa atmosfera requintada e revive os sentimentos de outros tempos.