30 agosto 2024

Torrechiara, local de um amor proibido

 


Torrechiara é um lugar encantador para apreciar as tradições e os autênticos sabores da Itália. Localizada nas colinas da Emilia Romagna, essa vila medieval oferece uma  esplêndida vista do vale do Parma e das montanhas dos Apeninos. 



No alto da colina encontra-se o impressionante Castelo de Torrechiara, um monumento nacional que preserva belos afrescos e salões elegantes.  Considerado como um dos castelos mais notáveis, cenográficos e mais bem preservados da Itália, o monumento encontra-se aberto à visitação turística.



O nome do castelo deriva do termo "Torciara", que significa literalmente "prensar o vinho", pois na Idade Média, assim como acontece ainda hoje, o castelo usufrui de de um clima ameno e uma vista brilhante sobre vinhas e olivais. Ainda é possível maravilhar-se com uma vista panorâmica de todo território circundante, através das varandas ou de caminhadas pelas muralhas.



Segundo a tradição local, o magnífico Castelo de Torrechiara foi construído entre 1448/1460 por ordem do Conde Pier Maria II Rossi, um nobre da região, que no passado lutou a favor dos Duques de Milão.

A princípio o Conde alegou que o castelo era necessário para preservar a segurança da região. Isolado na paisagem e no alto de uma colina, sua localização permitiria combater qualquer invasão.



Do lado de fora o castelo tem uma aparência austera, mas tudo muda assim que que se cruza as linhas defensivas do castelo. Há nada menos que três linhas de parede com até quatro torres. 

A todo tempo observa-se a importância da Casa de Rossi, que foi retratada em todos os castelos de propriedade da família. O acesso ao pátio é feito passando por uma longa entrada coberta. 



Ao entrar no castelo o cenário militar abre espaço para a atmosfera pacífica da vida cortesã e familiar. As varandas se abrem para o grande pátio, de onde pode-se observar os andares superiores.  



Entre os quartos destacam-se o Salone Degli Stemmi, a Sala de Júpiter ou Sala di Giove, a Sala del Pergolato, a Sala dos Anjos ou Sala Degli Angeli. 



Há ainda a Sala da Paisagem, a Sala da Vitória ou Sala Della Vittoria, o Velarium, a Sala de caça e pesca e, por último, o magnífico Salone Degli Acrobati.



Os afrescos são notáveis, apresentando figuras mitológicas grotescas, anjos, cartelas e arquitetura imaginária. As áreas de serviço são imperdíveis, tal como as cozinhas e estábulos, bem como a rede subterrânea de masmorras, abertas apenas em ocasiões especiais.



A magnifica fortaleza demorou 20 anos para ser concluída. No entanto a construção serviu para outros planos. O Conde era um homem culto e grande apreciador da arte e arquitetura. Pai de 10 filhos, ele era casado desde os quinze anos de idade por interesses de sua família.

Senhor de Parma, durante suas incursões em Milão ele se apaixonou por Bianca Pellegrini, que era a dama de companhia da Duquesa de Milão. Bianca também era casada, mas diante da paixão ela deixou o marido e foi viver com o Conde.



Para viver esse amor proibido, o conde encomendou uma rica decoração, que homenageia a história de Pier e Bianca. A sala apresenta as hastes dos dois amantes e dois corações com as frases "Digne et in aeternum" ou "Dignidade e Eternidade", gravando assim a eternidade de seu amor terreno. 



Os monogramas dos dois amantes são imediatamente reconhecíveis na viga da porta da igreja do castelo dedicada a San Nicomedes, mas principalmente o quarto dos amantes, denominado como "Camera d'Oro", cujo aposento  destaca-se pelos belos afrescos.



Apesar das poucas peças de mobiliário espalhadas aqui e ali, um conjunto de cores vivas e figuras bizarras embelezam todo o percurso. Em todos os elementos da decoração, dos vasos de terracota às pinturas, encontram-se as iniciais do casal entrelaçadas, alternadas com a inscrição "Nunc et Semper" ou seja "Agora e para Sempre"...



Desde 1911 foi tombado como um monumento nacional italiano, ficando assim protegido pelo Ministério do Patrimônio Cultural e Atividades e Turismo. Ele faz parte do Complexo Museológico Emilia-Romagna  e está incluído no circuito dos Castelos do Ducado de Parma, Placência e Pontremoli. 

Um terremoto em 23 de dezembro de 2008 causou danos consideráveis ao castelo, especialmente à parede externa da Torre de San Nicomedes e Merlão coroado. Algumas salas foram imediatamente fechadas e em 2009 foram realizadas as obras de consolidação estrutural do edifício. 

O oratório de San Nicomede foi posteriormente renovado no nível do solo. A laje do telhado que desabou foi reconstruída. No piso principal, a Sala della Sera original foi recriada e restaurada, assim como as outras salas. 



Com a sua silhueta imponente e elegante, o castelo evoca um passado medieval, despertando a curiosidade de muitos escritores e realizadores. Por diversas vezes o castelo foi usado como cenário para vários filmes e programas de televisão.

Em 1937 serviu de cenário para o filme "Condottieri"  e em 1981 para o filne "Tragedia di un Uomo Ridicolo". Em 1985 foi feito o filme "Lady Hawke. Em 1995 em seus aposentos foi criado o videoclipe da música "Riguarda noi" e  em 2012 para o videoclipe da música "Yesterday" do cantor e Umberto Tozzi.

Em 2012 foi cenário para aminissérie de televisão "La Certosa di Parma" e em 2014 para aa série de televisão "Francesa Borgia". Em 2017 os aposentos do castello apareceram no episódio intitulado "Castelli na época do programa de televisão Ulisse - Il piacere della scoperta", concebido e liderado por Alberto Angela.



Todos os domingos, como parte do projeto interprovincial "I Castelli delle Donne", é possível participar de visitas guiadas, quando os guias vestem roupas medievais. Todo primeiro domingo do mês à tarde há uma visita guiada animada.

Desde 1996, nos meses de julho e agosto, o Tribunal de Honra do castelo é a sede do evento musical, conhecido como o "Festival Torrechiara "Renata Tebaldi", que anualmente lembra importantes artistas italianos e estrangeiros. 

Entre os outros eventos anuais hospedados na mansão, acontece o evento "Due cuori e un castello", próximo ao Dia dos Namorados, e a reconstrução medieval "Giorno di Festa a Corte" em 2 de junho.



O Conde faleceu em seu castelo em 1482. E assim como em todos os castelos, o Torrechiara também mantém sua lenda de fantasmas. Segundo contam, nas noites de lua cheia, junto à estrada de acesso original ao castelo, o espectro de Pier Maria II de 'Rossi vaga em busca de amada Bianca Pellegrini, repetindo o lema "Nunc et sempre"... 


25 janeiro 2024

Rocca Imperiale






As pequenas aldeias da Calábria são lugares únicos, onde se encontra hospitalidade, entretenimento e sociabilidade, que se distingue muito dos padrões do turismo de massas. 

Localizadas na "ponta da "bota" entre dois mares: Jonico e Tirreno, passar por essas aldeias significa uma experiência única e fascinante, que permite mergulhar na história antiga, através de milênios de história, arte, cultura e tradição. 

Passeando desde a costa até as montanhas, ali encontram-se paisagens de contos de fadas e aldeias que parecem verdadeiros presépios, sendo muitas delas certificadas entre "As mais belas aldeias de Itália".






Dentre essas aldeias destaca-se Rocca Imperiale, uma pitoresca vila cujo destaque é o imponente castelo no alto da colina, que tem muitas casas e pequenos palácios empoleirados em degraus nas encostas, criando um belo cenário.

Construído por Frederico II di Svevia em 1221, a estratégica posição do castelo fazia parte de um grande projeto defensivo, juntando-se às mais de de duzentas construídas no sul da Itália.




Frederico II


Nascido em 1194 e falecido em 1250, Frederico II foi rei da Sicília a partir de 1198, Imperador do Sacro Império Romano e rei da Itália e de Jerusalém entre 1225/1228. 

Era neto de Frederico I, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, o famoso "Barbarossa" ou "Barba Ruiva", que ficou famoso na história da região do Mar Mediterrâneo devido às suas conquistas.    

Devido aos seus constantes conflitos com os Estados papais, uma rivalidade histórica que já existia desde os tempos de seu avô, Frederico II foi excomungado duas vezes. 

O Papa Gregório IX chegou a chamá-lo de Anticristo. Por causa disso, quando morreu surgiu a lenda de que ele voltaria a reinar de novo em 1.000 anos.





Guido Bonatti

Ao contrário de muitos monarcas do seu tempo, muitas vezes analfabetos, Frederico II se expressava em nove línguas estrangeiras. Era um dirigente moderno e tinha ideias avançadas sobre economia.

Patrono das ciências e das artes, um dos seus conselheiros era o famoso astrólogo Guido Bonatti de Forlì, que lhe antecipava as previsões astrológicas. Por isso Frederico II nunca saia para uma batalha, sem antes consultar Bonatti. Em vão seus inimigos tentavam captura-lo. 

Certa vez Bonatti previu que seu filho tentaria destrona-lo. Diante de tal informação, Frederico II se preparou para combater a rebelião e mandou prender o filho. 

Embora tivesse grande reputação junto aos nobres, Bonatti foi criticado na Divina Comédia de Dante, onde ele é descrito como residente no inferno, uma punição por causa de suas previsões astrológicas.





Castelo Svevo


A maior parte da fortaleza pode ser visitada. Desde seus quartos até seus pátios, nota-se uma robusta estrutura bem trabalhada. Guardando mais de seis séculos de história, a planta quadrangular do castelo tem quatro torres. 

A entrada é feita através de uma primeira ponte. A outra entrada era usada em tempos antigos, através de uma ponte levadiça, que leva ao Portal de Frederico. 






Após a entrada encontra-se uma imponente escadaria, com grandes arcos redondos. O primeiro cômodo é a cozinha, ainda equipada com cisternas e outros equipamentos.

Em seguida chega-se à Piazza d’Armi, decorada com as belas ameias aragonesas, onde é possível conhecer algumas salas de utilização incerta e às salas de recepção do palácio Crivelli situado no primeiro andar. 






Uma escadaria íngreme desce para segundo plano, onde se encontravam as prisões do castelo. É a partir desse ponto que chega-se dentro de um grande fosso. Passando por baixo do terraço panorâmico, chega-se à Torre Polveriera ou Torre de Pólvora. A oeste está a Torre Amigdaloide. 

Ao sul, sob um grande arco redondo, é possível admirar as cavalariças do castelo, onde estão marcadas as baias dos cavalos. Dos estábulos, passando pela Torre di Federico, é possível subir ao andar superior. 

A partir do andar superior, há um pequeno pátio interno onde são visíveis vestígios de um afresco do século 18. A partir dali chega-se ao terraço panorâmico, que oferece uma vista deslumbrante sobre a vila de Rocca Imperiale e o Golfo de Taranto.






Após a morte de Frederico II, toda a região passou a ser governada por Carlos de Anjou, que lá viveu por um longo tempo e confiou sua custódia aos Cavaleiros da Ordem de Jerusalém. 

No final do século 15 Rocca Imperiale tornou-se parte dos territórios de Alfonso D'Aragona, que fez algumas mudanças e ampliações em toda a estrutura. Nos séculos seguintes a vila foi palco de vários acontecimentos históricos, mas acima de tudo foi muitas vezes atacada pelos sarracenos a partir de 1664.






No início do século 18 o castelo foi comprado pela família Crivelli. Cercado por enormes muralhas em vários níveis, o castelo tornou-se ainda mais inexpugnável pela presença de um profundo barranco no lado sul. 

O núcleo, ordenado por Frederico II e concluído durante o período aragonese-espanhol, sofreu profundas mudanças pelos senhores da área, os duques Crivelli, que construíram um palácio na parte mais alta. 

Por ter sido abandonado, o castelo foi vítima de atos de vandalismo que o reduziram quase a uma pilha de ruínas. Comprado pela família Cappa, foi habitado até 1989, época em que o castelo foi doado ao município.






Caminhar pela aldeia não é uma tarefa fácil, já que as ruas e becos que levam até as partes mais altas são muito íngremes. Ao admirar as casas e as pequenas praças ainda se nota que conservam todos os detalhes originais.

No passado as casas baixas e maciças incentivaram as populações do campo e das cidades vizinhas a mudarem-se para a nova vila fortificada. Logo foram surgindo o comércio, os pequenos palácios e várias igrejas.





Igreja Santa Maria in Cielo Assunta

Entre as diversas construções religiosas destaca-se a Igreja Matriz, que é a mais importante e também a mais antiga da aldeia. Dedicada à Santa Maria in Cielo Assunta, foi construída no século 13 em estilo romântico. 

Sua nave única  foi construída pouco depois do Castelo. Na fachada destaca-se uma grande rosácea com vista para o portal e uma torre sineira, com duas janelas além de uma pequena torre do relógio.





Igreja de San Giovanni


No roteiro há outras igrejas menores, mas não menos importantes, como a Igreja do Crucifixo, Igreja de San Giovanni, Igreja del Rosario, Igreja del Carmine, Igreja San Biagio e o Santuário de Santa Maria della Nova.



 

Mosteiro /Museu de Cera


Construído no final do século 16 para a confraria dos Minori Osservanti, apesar das modificações posteriores a igreja ainda mantém seu portal original com belas portas de madeira de 1615.

No mosteiro encontra-se o Museu de Cera, que alia o misticismo, a antiguidade e a combinação entre o sagrado e o profano. Inúmeras  personalidades encontram-se retratadas em tamanho real.

Com extrema atenção aos detalhes, desde Madre Teresa de Calcutá, Mussolini, Giuseppe Verdi, Che Guevara, até personalidades locais que trouxeram conquistas à comunidade da aldeia, como o soldado Francesco Mesce.






Igreja da Visitação da 
Bem-Aventurada Virgem Maria


Inaugurada em 2001 junto à Rocca Imperiale Marina, a nova Igreja da Visitação da Bem-Aventurada Virgem Maria tem a particularidade de ter sido construída em forma de anfiteatro, para possibilitar aos fiéis visão equitativa das celebrações. 






Rocca Imperiale Marina


A localização de Rocca Imperiale é extremamente privilegiada. Cerca de 4km do centro histórico está a aldeia de Rocca Imperiale Marina, onde encontra-se 7km de costa com areia branca e um mar cristalino.

A principal é a Praia de San Nicola. Outra é a Praia Lungomare, que tem uma esplêndida vista do Castelo. A Praia con le Pietre é ideal para quem prefere destinos com a areia e pedras.

Sem perder a suavidade, a Praia de Pietra Cervaro é indicada para quem prefere mar mais profundo e cristalino, como os amantes do mergulho e da adrenalina.  





Limões de Rocca Imperiale

As especialidades gastronômicas dos limões Rocca Imperiale são os protagonistas indiscutíveis da maioria dos licores, sobremesas e receitas da Rocca Imperiale. 

Na pequena vila medieval florescem os limões, que se destacam como um produtro que recebe a classificação IGP (Indicação Geográfica Protegida), atribuída a produtos agrícolas tradicionalmente produzidos numa região.

Os limões de Rocca Imperiale é a variedade mais conhecida na Calábria. Devido ao clima da região, esses limoeiros florescem quatro vezes ao ano. São frutos especiais muito apreciados em toda a Itália, graças à sua peculiaridade de serem quase completamente sem sementes e com um perfume intenso e persistente. 






Nos restaurantes da cidade, o primeiro prato típico é o "Frizzuli con la mollica", um tipo de massa artesanal longa servida com molho de linguiça enriquecida com pimenta em pó e servida com farinha de rosca. 

A salsicha de Rocca Imperiale tem um sabor inesquecível, graças à presença de ervas que a tornam saborosa e com o grau certo de picância.  Os Peperoni Cruschi são típicos de toda esta área da Calábria.

E o que dizer da "Bambata" (focaccia com pimentões e tomates) ou os vários "Ptticill" (panzerotti com vários recheios), opções que podem ser consumidas durante a subida ao ponto mais alto de Rocca Imperiale...

16 janeiro 2024

Gigi D'Alessio - Si Putesse Vede Napule


Gigi D'Alessio /Si Putesse Vede Napule

Ho immaginato sempre il mondo a modo mio, ma è stato inutile.
Ho dato un volto provvisorio pure a Dio qualche domenica.
Con le mie mani ho conosciuto anche me stesso un po' di più,
'na carezza pe cia fa a mammà e nu suono 'e chistu pianoforte ca me fa cantà.

Ma il desiderio che non può avverarsi mai è sempre il solito,
non è Parigi o il sole caldo delle Hawaii, ma vedere Napoli.
Facciamo finta che per un momento stiamo passeggiando per la tua città
se mi presti pure gli occhi tuoi, dai colore a quello che dirai.

Si putisse vedè Napule, Margellina 'ncopp'o Vommere
quanno stessemo a Pusilleco, te vennisse 'a cas'a America.
Ce mettisse 'na semmana pe parlà napulitane e "O sole mio" cantasse pure tu.

Si te porto cu mme' a Napule, dint'a 'na valigia 'e lacreme 
pe te fa turnà in America, voglio 'e napulitane 
che a tantu tiempo stann'e cas'llà...

Con quanto amore parli della tua città, però non piangere.
Telefonare adesso non è il caso, dai, sarebbe stupido.
Forse la voglia pazza di parlare fa dimenticare le 6 ore in più,
portami ancora nella tua città, l'ho visitata solo per metà.

Si putisse vedè Napule, Margellina 'ncopp'o Vommere
quanno stessemo a Pusilleco, te vennisse 'a cas'a America.
Ce mettisse 'na semmana pe parlà napulitane
e 'O sole mio cantasse pure tu.

Si te porto cu mme' a Napule, dint'a 'na valigia 'e lacreme, 
pe te fa turnà in America, voglio 'e napulitane 
che a tantu tiempo stann'e cas' llà...