05 novembro 2019

Napoli 17 O sagrado e o profano




Igreja e convento de San Gregorio Armeno

Uma das construções mais antigas de Napoli é a Igreja de San Gregorio Armeno. Situada na Via San Gregorio Armeno, ao lado das igrejas de San Lorenzo e de San Paolo Maggiore, essa igreja marca o coração da cidade onde viveram os gregos e romanos há mais de 2000 anos.






Conhecida também como Igreja de Santa Patrizia, protetora da cidade juntamente com San Gennaro, o túmulo da santa é um local de peregrinação. 






Passando pelo átrio, você pode ver nas laterais da porta as inscrições que lembram o ano de consagração da igreja em 1579 e a dedicação ao santo.  Afrescos de Luca Giordano reconstroem as histórias de San Gregorio e San Benedetto. 







O magnífico complexo monástico foi construído por volta do ano 1000 sobre as ruínas do templo de Ceres para acomodar as freiras basílias, que fugiram de Constantinopla com as preciosas relíquias de São Liguoro ou San Gregorio. 






Embora esteja localizado num local de muito movimento, ao passar pelo portão de entrada do convento você se sente imerso em um mundo feito de silêncio, meditação e espiritualidade. 

De extraordinária beleza, entre canteiros de árvores frutíferas, uma fonte de mármore é ladeada por estátuas em tamanho real retratando "Encontro no Poço de Cristo com o Samaritano".





Via San Gregorio Armeno

A tradicional Via San Gregorio Armeno, também chamada rua dos pastores, rua dos presépios ou rua dos artistas, é onde podem ser encontrados os mais lindos presépios do mundo. 

Isso acontece porque em Nápoles o costume de montar presépios é mais forte do que outros símbolos natalinos. Aliás, a própria natividade que simboliza o natal, por isso é considerada celebração sobretudo familiar e religiosa.






Cada família costuma ter seu próprio presépio, que vai aumentando com o passar do tempo com a introdução de novas paisagens e peças. É por isso que na época do Natal essa região costuma receber centenas de pessoas, que se espremem entre a Via dei Tribunali e a Via Biagio dei Librai em busca dos famosos presépios napolitanos.  






Geralmente os napolitanos montam o presépio no dia 8 de dezembro, quando acontece a tradicional "Festa della Immacolata Concezione". Porém a figura do menino Jesus só é colocada na manjedoura na noite de 24 de dezembro.






É impressionante ver a riqueza de detalhes dos presépios, como casinhas com objetos em miniatura. Há presépios simples, mas também outros mais sofisticados. 

Alguns presépios costumam ter peças movidas por eletricidade. A confecção dessas peças é uma arte transmitida de pai para filho. Algumas lojas pertencem a tradicionais famílias de artesãos , que exercem o ofício há décadas.





O sagrado e o profano

Além das peças natalinas e religiosas, há também uma infinidade de estatuetas, que representam jogadores de futebol, políticos, artistas etc. 






Algumas são realmente muito irreverentes, mas o que mais se vê são as estatuetas de Diego Maradona e do Pulcinella.





Pulcinella ou Polichinelo

Caminhar pela Via San Gregorio Armeno, além de ser divertida também é uma verdadeira aula de cultura napolitana. Uma estatueta muito popular em Nápoles é o Pulcinella ou Polichinelo, um antigo personagem-burlesco da comédia da arte, cujas raízes remontam ao teatro da Roma antiga.

Sua característica principal é o nariz longo, a barriga grande, a roupa multicolorida e fala tremida e esganiçada.  Ele resume em si mesmo a unidade dos contrários, com algumas versões de sua estória colocando-o até mesmo como filho de plebeu ou nobre.






E por que o Pulcinella é tão popular em Nápoles? Isso não é difícil saber. Tal como os napolitanos, o Pulcinella é esperto, falante e personifica a preguiça, o "dolce far niente" italiano. A maior inspiração do Pulcinella è comer e beber, às vezes se embriagando e comendo em abundância.

Embora seja frequentemente objeto de pesados golpes, ele sabe ser simpático com aqueles que detém o poder. Por isso ele consegue brincar e enganar com sua amável esperteza. Costuma trazer consigo um bandolim e cantar baixinho. 

No fundo, ele è uma boa pessoa, mas pensa somente em si próprio. Sempre pronto a tramar alguma coisa ou fazer travessuras, ele não consegue estar em silêncio. Isso deu origem à famosa a expressão: "é um segredo de Pulcinella", ou seja, dizer algo que todo mundo sabe.






A máscara Pulcinella tem um significado não apenas histórico, artístico e cultural, mas sobretudo social, ou melhor, de protesto social. Metaforicamente, a máscara simboliza o povo napolitano cansado dos abusos e humilhações recebidas pela classe da alta burguesia cínica. É um meio pelo qual  o povo napolitano encontrou para se rebelar contra o poder desumano.

Descrito como um personagem de sentimentos fortes, o Pulcinella sempre acaba sendo enfeitiçado pela sua eterna noiva Teresa. Sempre em apuros, graças a sua astúcia consegue escapar das situações desagradáveis. 

Com seu humor e sua força faz o seu próprio divertimento sublinhando a sua vontade de viver e superar os obstáculos. Porém pode tramar meios de prejudicar aqueles que o ameaçam, levando por seu desejo de vingança. Enfim, o Pulcinella resume os vícios e virtudes dos napolitanos: sociáveis, irônicos, lúdicos e extremamente bem humorados...





Amuletos

Em Nápoles o sagrado e o profano andam sempre juntos e isso pode ser visto nas igrejas, mas também nos objetos que se encontram à venda. Crenças e superstições sobrevivem harmoniosamente, o que fica bem evidente pelos diversos amuletos vendidos nas lojinhas e nas feiras. Dizem os napolitanos: pode até parecer ignorância, mas na dúvida é melhor se prevenir e afastar o azar. 

Aliás, os italianos em geral tem algumas crenças, tal como evitar o número 17, assim como não casar e nem fazer negócios nem na terça nem na sexta-feira. Colocar o chapéu encima da cama ou matar uma aranha, especialmente de noite, dizem que dá azar.






Há muitas outras superstições, mas há também outras formas de afugentar o azar. Bater num ferro espanta o azar, assim como deparar com um corcunda, achar uma joaninha, usar roupa íntima vermelha no Réveillon, derramar vinho tinto na mesa, pisar em cocô de cachorro ou ser atingido pelas fezes de uma ave pode ser sinal de que algo bom irá acontecer. 

Mas nada disso teria um duplo poder do que um chifre vermelho, pois além de afugentar o azar traz sorte. Melhor ainda quando é recebido de presente, pois assim vem impregnado com o desejo de boa sorte de quem lhe presenteia. 

O olho do mal, também conhecido olho gordo, é chamado na Itália de "Malocchio". Uma das medidas mais familiares preventivas contra o malocchio é fazer o sinal do chifre mas também usar o chifre vermelho como colar de proteção, que pode ser usado no chaveiro ou pendurado no carro. Porém nada se compara com os mitos, lendas e ritos presentes na cultura napolitana.   

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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.