Cápua é uma cidade próxima a Nápoles, onde o tempo passa devagar. Não há o agito de carros e pessoas nas ruas, mas guarda uma das mais fascinantes histórias do passado. Com muitos palácios e castelos, a cidade é um patrimônio de arte escondido ao longo de percursos menores e pouco conhecidos.
Porém é imperdível para quem quiser reviver as fortes emoções do período romano e da Idade Média. Situada na curva do rio Volturno, as pontes ligam as duas partes da cidade. No século IV a.C., Cápua era a maior cidade da Itália.
A antiga ponte, que testemunhou a presença dos romanos em Cápua, era o principal acesso à cidade. A antiga entrada é marcada pelas Torres Frederico II. O Castelo de Carlos V foi construído em 1542 para reforçar a defesa da cidade.
Piazza dei Giudici
O centro histórico é rico em monumentos e palácios históricos, tal como o Palácio Antignano que é a sede do Museu Campano, o Palácio Ettore Fieramosca com seu bonito portal, o Palazzo Lanza e o Palazzo di Capua. O Palazzo del Governatore, o Palazzo della Gran Guardia e a Igreja Matriz compõe a Piazza dei Giudici. Do
período antigo resta a Ponte Romana, a Porta Napoli e as Torres de
Federico II.
A
chamada Cápua Nova teve início em 856 como capital do Principado
longobardo de Capua, que acabou nas mãos dos Normandos em 1059.
Nessa
época foi construído o Castello Principi Normanni ou Castelo de Pedras junto à
Sala delle Armi ou Sala das Armas.
Situado próximo à Piazza Medaglie
D'Oro, o nome do castelo deriva das pedras do antigo anfiteatro que foram usadas na construção.
Embora a cidade seja pequena, há inúmeras igrejas espalhadas por todo lado. Uma delas é a Catedral de Santi Stefano e
Agata construída em 856 e reconstruída duas vezes. A Igreja e Convento
de Santa Caterina foram construídos em 1383.
Alguns anos depois, o
claustro foi financiado por famílias nobres de Capua, por isso a igreja
tem os brasões de armas esculpidos na base das colunas e no interior da
igreja. A Igreja e antigo Convento da Anunciação são unidos por
uma ponte.
Montevergine é um antigo mosteiro dado aos monges
beneditinos, onde funciona um seminário. A Igreja de Santa Maria delle
Grazie ou Santella foi construída em 1761 para comemorar o milagre da
Virgem que teria terminado o massacre ordenado por Cesare Borgia. Há
ainda dezenas de outras igrejas e capelas, que eram das famílias
nobres de Capua.
Santa Maria Capua Vetere
Na antiga Cápua, hoje chamada Santa Maria Capua Vetere, está um dos anfiteatros mais espetaculares da Itália.
Projetado para acomodar um grande número de pessoas, antecedeu a construção do Coliseu de Roma, que só foi construído quase 100 anos depois.
Arqueólogos afirmam que o anfiteatro acomodava 100.000 pessoas. A multidão de espectadores era controlada por um sistema de numeração de ingressos, que visava coincidir com números de porta e por escadas que levavam diretamente para os vários níveis, sendo o mesmo sistema que ainda é utilizado nos estádios esportivos.
Provavelmente construído nos anos 50 a.C., em toda a estrutura há escadas e rampas, como também elevadores que traziam animais e gladiadores através das câmaras debaixo da arena. Interessante são as pedras da construção cortadas sem os benefícios das máquinas modernas.
Há uma extensa rede de túneis abaixo do piso do estádio com aberturas retangulares que permitiam entrar a luz do sol para iluminar os corredores. Com complexa alvenaria, o anfiteatro é uma verdadeira maravilha da engenharia.
A antiga Cápua foi a cidade mais importante da Campânia,
ligando-se a Roma através da Via Appia, que era a mais importante das
estradas militares da Itália.
A cidade era próspera, com vinhos,
especiarias e ungentos além da fabricação de artefatos de bronze, por
isso era considerada uma cidade de opulência, luxo e conforto.
Em Cápua também estava a Escola de Gladiadores. Muitos escravos eram comprados ou capturados para serem gladiadores e lutar nas
arenas para entreter o público.
Isso fazia parte da política "Panis et
Circenses" ou Pão e Circo criada pelos antigos romanos, que consideravam
que a comida e diversão para o povo diminuiria a insatisfação popular
contra os governantes. Espetáculos sangrentos eram promovidos nas
arenas, enquanto o pão era distribuído gratuitamente.
Spartacus
Um
desses gladiadores foi Spartacus que tinha sido um soldado romano, mas
tendo desertado foi capturado e vendido como escravo. Devido à sua força
descomunal, foi levado para a escola de gladiadores de Cápua.
Inteligente e culto, ele se reuniu com outros 200 gladiadores, que também
eram escravos, e se revoltaram contra sua vida de miséria e maus tratos. Visando
acabar com a revolta, eles foram entrincheirados no alto de penhascos por
uma legião de romanos.
No entanto, usando as videiras, eles fizeram
escadas e desceram pela retaguarda atacando a tropa. Uma nova tropa foi
enviada levando ursos ferozes, mas Spartacus venceu-os e apoderou de
todas as armas e bagagens.
Ao longo do caminho, outros escravos
se juntaram a eles formando um exército de 60.000 rebeldes. Numa tática
militar Spartacus seguiu para os Alpes evitando outros confrontos, assim
pretendia chegar à Gália e Trácia onde estariam livres.
Porém os
escravos que o acompanhavam passaram a saquear os vilarejos e ainda
entraram em confronto com uma tropa. Esse foi um erro irreparável. Os
que sobreviveram foram crucificados e deixados ao longo da Via Appia para
servir de exemplo aos escravos.
Na antiguidade Cápua era
aliada de Roma na luta contra Cartago, uma potência da Tunísia que
disputava o controle do Mar mediterrâneo. Dessa disputa originaram-se as
três Guerras Púnicas que levaram à destruição de Cartago.
A rivalidade
entre Roma e Cartago era antiga e o general cartaginês Amilcar Barca
fizera seu filho Anibal com apenas 9 anos jurar ódio eterno e a destruição de Roma.
Anibal
cresceu e tornou-se um dos melhores guerreiros de seu exército vencendo
várias guerras. No ano 218 resolveu que atacaria o grande Império
Romano. Reuniu mais de 100.000 guerreiros com 37 elefantes, transpôs as
terras dos Alpes cobertas de neve e chegou até a Itália.
Venceu várias
batalhas e por onde passava destruía legiões romanas, apesar de seu contingente ser menor do que o inimigo. A
poderosa Roma que se achava invencível a cada dia perdia muitos de seus
soldados e cavalaria.
Num só dia 50.000 soldados foram mortos no campo
de batalha. Era iminente a derrota da soberba rainha das nações e a
marcha triunfal de Anibal sobre Roma derrubando sua supremacia.
No
entanto, ao invés de lançar-se sobre a cidade que estava indefesa,
Anibal retirou-se para Cápua com sua tropa para descansar apesar das
sugestões de seus oficiais que insistiam em prosseguir.
Junto
de sua tropa Anibal entregou-se à vida ociosa e devassa em Cápua,
desfocando de seus objetivos e deixando seus soldados desmotivados. Entregando-se à vida fácil e confortável em Cápua, Anibal
cometeu um erro irreparável.
Ao facilitar o repouso e o relaxamento de
seus valentes soldados concedendo-lhes tudo quanto quisessem, julgava
que eles adquiririam assim um redobrado vigor, no entanto esse não foi o resultado. De
tanto descansar no meio dos prazeres, eles amoleceram e perderam o
desejo de vencer.
Durante esse tempo os romanos reagruparam suas forças e
iniciar uma hábil contra-ofensiva, hostilizando a retaguarda africana e
cortando-lhe o aprovisionamento. Aníbal jamais chegaria a entrar em
Roma.
Aníbal
confiou demais em suas próprias forças e se considerou vitorioso sem
ter atingido seu objetivo final. Todas as suas lutas e dificuldades
anteriores perdera o sentido. Deste fato histórico surgiu a expressão
"As delícias de Cápua" que passou a ser uma frase feita para a atitude
de quem com a vitória próxima, esmorece e perde...