09 maio 2023

Pitigliano, la piccola Gerusalemme di Maremma

 


Na Itália belas cidades são destacadas pelo turismo, mas há cidades no interior da Itália que são surpreendentes. Algumas delas são as cidades etruscas de Pitigliano, Sovana e Sorana, consideradas como verdadeiros tesouros escondidos ao sul da Toscana. 




Com sua herança histórica e cultural, Pitigliano está assentada na área do Tufo, onde estão os primeiros sinais das montanhas Volsini. De longe Pitigliano se apresenta aos nossos olhos de uma maneira esplêndida.



Como se tivessem perdido contato com a civilização por muito tempo, o progresso não conseguiu destruir os vestígios de povos antigos que ali habitaram. Nas casas muito antigas os moradores de idade avançada mantém muitos gatos e costumes de séculos atrás, que fazem parte dos dias que passam sem pressa. 



Conhecida como "Piccola Gerusalemme di Maremma" ou Pequena Jerusalém da Maremma, Pitigliano é uma cidade que parece estar suspensa entre o céu e a terra. Localizada na província de Grosseto, a cidade não faz parte do roteiro comum de turismo, porém é uma das cidades mais bonitas da Toscana.




Piazza Petruccioli 

Caminhando pela antiga porta da cidade, a Piazza Petruccioli serve como entrada para o Centro Histórico, que se desenvolve ao redor de três ruas principais: Via Vignoli, Via Roma e Via Zuccarelli. Quase paralelas entre si, essas ruas são ligadas por uma rede de ruas estreitas, por onde olhos atentos podem descobrir detalhes interessantes. 



Museo della Civiltà Giubbonaia 

Na primeira praça da cidade fica o ponto de informação turístico, e no mesmo local funciona o Museo della Civiltà Giubbonaia, que preserva uma rica coleção particular de objetos de locais diferentes, principalmente ferramentas e objetos da vida rural,  típica da Marema e de Pitigliano.



Hoje Pitigliano é uma das vilas italianas mais fascinantes da Itália. Seus balcões floridos, arcos, escadarias e brasões nobres marcam suas 60 ruelas. Cada um dos becos guarda um detalhe diferente e surpreendente, que fazem de Pitigliano um lugar mágico. 




Se você encontrar uma anciã tagarela terá a sorte de ouvir muitas estórias, enquanto um gato magro cruza seu caminho furtivamente. A cidade é tão tranquila, que nos becos os comerciantes deixam artigos expostos até mesmo quando fecham para o almoço. 



Diz uma lenda que a cidade foi nomeada com a junção do nome de dois soldados romanos, que escaparam de antiga Roma com uma coroa de ouro. Seus nomes eram Petilio e Ciliano, assim a cidade passou a ser chamada de Pitigliano. 

Porém é mais provável que as origens romanas sejam da antiga Gens Petilia e mais tarde chamada Pitigliano. Na verdade a origem da cidade é confirmada desde a pré-história, como pode ser observado em suas cavernas rupestres. 

Seus primeiros habitantes foram os etruscos, que ali viveram entre os séculos 7/6 a.C. Depois chegaram os romanos e na Idade Média se tornou um feudo da família Aldobrandeschi, que foram os primeiros senhores da Maremma.



Palazzo Orsini

Na Piazza della Repubblica encontra-se o Palazzo Orsini, que serviu como residência dos Condes Aldobrandeschi. Em 1313 o palácio foi passado para a família Orsini, uma das mais importantes dinastia da Itália, que deu seu nome ao palácio. 

O palácio é uma espécie de fortaleza e tinha o objetivo de proteger a única parte da aldeia que se conectava com a planície. As outras partes da aldeia contavam com proteção natural, composta por subidas íngremes de difícil acesso. 



Em seu interior, 20 salas tem os tetos e paredes ricamente decorados por brasões e afrescos de figuras com signos do zodíaco. O pátio, em formato hexagonal, é decorado com baixos-relevos e ostenta os belos brasões da família Orsini.

Reconstruído no século 16, atualmente o palácio pertence à Cúria Diocesana. Ali encontra-se o Museu do Palazzo Orsini, o Museu Diocesano de Arte Sacra, Museo Civico Archeologico della Civiltà Etrusca, o Arquivo Diocesano e a Biblioteca.




Fontana delle Sette Cannelle 

Logo adiante do Palazzo Orsini encontra-se a Fontana delle Sette Cannelle ou Fonte das Sete Bicas. Erguida em 1545, cinco bicas são decoradas com imagens de animais, cujas esculturas datam de diferentes épocas e estilos. 



Adiante da fonte encontra-a inconfundível escultura de bronze em homenagem a "Al Villano", que recorda o Villano com o seu Burro, elemento ligado à cultura camponesa, com seu esforço e o sofrimento, mas também de esperança de uma vida melhor.

 


Aquedotto Mediceo 

Depois da família Orsini veio a família Medici, que instalou seu Granducado em Pitigliano. Dessa época encontra-se o belíssimo Aquedotto Mediceo ou Aqueduto dos Medici, que foi construído entre 1636 e 1639.

Apoiado em uma enorme coluna e conectado a treze arcos menores, esse trabalho de engenharia excepcional se propôs levar a água dos córregos que fluia abaixo do precipício à uma inclinação muito íngreme.  

Durante séculos, as únicas fontes de água da cidade eram as três fontes da Piazza della Repubblica, que é a principal praça da cidade. Desse local tem-se uma fantástica vista panorâmica.



Gueto Judeu

No passado existiu em Pitigliano uma grande comunidade judaica, que teve um importante papel na história da cidade. Na verdade Pitigliano foi uma das poucas aldeias que acolheu os judeus. 

Sob a proteção do Conde Niccolò IV Orsini, foi criado o Gheto e construída a Sinagoga em 1598. Por ser favorável à presença de judeus, até mesmo doou um terreno para a construção de um cemitério judaico. 



Algumas pessoas queriam isolar os judeus, mas logo perceberam a importância econômica deles para a cidade. Assim eles tiveram toda a liberdade para fundarem negócios prósperos e bem sucedidos. 

E assim Pitigliano passou a ser conhecida como a "Piccola Gerusalemme". Na segunda metade do século 18 houve a reforma iluminista da Lorena e os novos Grão-Duques da Toscana permitiram que os judeus tivessem acesso a cargos públicos. 



Juntos, judeus e cristãos combateram tropas francesas que em 1799 queriam saquear o gueto. O tempo áureo do gueto judeu aconteceu em 1800, que eles chamaram de "século de ouro".

Tudo isso ocorreu antes do declínio, por conta da emigração e das leis raciais fascistas. Durante a guerra, diversos judeus foram salvos devido à solidariedade da população local.



Recentemente restaurada, na sinagoga existem móveis sagrados que datam dos séculos 16/17, assim como o Aron - a Arca Sagrada e o Tevà - o púlpito.  

No alto destacam-se inúmeros lustres pendurados em um teto todo decorado com escritos bíblicos. Diversas salas contém exposições permanentes que contam a história judaica. 



Catedral de Pitigliano

A Via Roma, com suas diversas lojinhas, leva até a bela Catedral de Pitigliano. Ela é dedicada a San Pietro e San Paolo, cujas esculturas enfeitam a lindíssima fachada feita no século 18. 

A torre sineira pertence ao período medieval, época em que também existia uma pequena igrejinha e que foi reformada pelo Conde Niccola III degli Orsini. Nos séculos seguintes foi restaurada, até ter a sua atual fachada.



Torciata di San Giuseppe

A religiosidade cristã está muito presente na cidade, por isso há algumas festas religiosas que mantém as tradições. Esse é o caso da Torciata di San Giuseppe. Celebrada a cada ano em 19 de março, a tradição presta homenagem a San Giuseppe, mas também celebra a chegada da primavera. 



De origem pagã, a festa representa um ciclo de vida que se fecha e outro que se abre, um costume dos antigos etruscos que acabou se misturando com a tradição cristã. A celebração consiste na queima de um enorme fantoche de palha, que dá origem a uma grande fogueira.



Palazzo Comunale

Junto à Catedral fica o pórtico do Palazzo Comunale, onde funciona a prefeitura da cidade. À sua frente o “Monumento alla progenie Ursinea“ tem no topo o urso heráldico dos Orsini. No pilar está a inscrição em latim datada em 1490, que fala da astúcia e da força dos Orsini.



 Igreja de San Rocco

Ao longo da via G. Orsini encontra-se a bela Igreja de Santa Maria, hoje dedicada a San Rocco, que é o padroeiro da cidade. Construída no século 12, essa é a igreja mais antiga de Pitigliano. Sua atual fachada foi restaurada no século 16 e em seu interior há belos afrescos. 

Perto dessa igreja está a Porta di Sovana, de onde se tem uma bela vista das casas de Pitigliano e onde é possível admirar partes das muralhas etruscas que foram construídas no século 7 a.C. 

Do outro lado da cidade está o Santuário della Madonna delle Grazie. Construído como uma pequena capela rural no século 15, foi transformada em convento até ao final do século voltou a ser um santuário dedicado à Madonna delle Grazie. 




Monumento alla divinazione etrusca

Nas imediações da Via G. Orsini encontra-se o Monumento dedicado alla divinazione etrusca. Os etruscos eram politeistas e adoravam múltiplas divindades. Eles acreditavam que todo ser vivo já nasce predestinado, ou seja, desde o seu nascimento já teria seu destino escrito pelos deuses. 

Então, quando desejam saber o que estava reservado em seu futuro, eles observavam o voo das aves, as entranhas dos animais sacrificados e, sobretudo, os fenômenos celestes. É provável que deles tenha vindo o forte misticismo, que até os nossos dias ainda permeiam na Toscana. 



Mundo subterrâneo de Pitigliano

Nas charmosas lojinhas de produtos típicos há uma fascinante variedade de objetos e produtos. Elas também servem de acesso para o mundo subterrâneo de Pitigliano, que é repleto de túneis escavados no tufo. 

Esses túneis serviram, ao longo dos séculos, como abrigos de proteção e rotas de fuga. Trata-se de um labirinto esculpido na rocha subterrânea, muitas vezes resultado de áreas que existiam séculos antes.

É provável que esses locais tenham sido usados pelos antigos etruscos como suas casas, estábulos e celeiros subterrâneos. O túnel mais importante tem  8 km de extensão por baixo da terra e liga Pitigliano à Sovana.



Vie delle cave 

Nos arredores da cidade, sítios arqueológicos etruscos são entrecortados por tumbas e túneis, que dizem terem sido escavados há mais de 4.000 anos. Ali cada pedra tem seus segredos. 

Também chamadas de “Tagliate” ou “Cavoni”, as Vie Cave são as estradas cavadas pelos etruscos diretamente na rocha de tufo e servia para conectar os povoados de Pitigliano, Sorano e Sovana.



Algumas paredes possuem 3 metros de largura, 20 metros de altura e até 1 km de comprimento. São caminhos meio escuros e úmidos, por isso ficam repletos de plantas e musgo. 

Única no mundo, caminhar por ali significa fazer uma viagem no tempo e descobrir um ambiente natural de grande beleza. As vias mais importantes dali são: Via Cava del Gradone, que leva até a necrópole homônima, e a Via Cava della Madonna delle Grazie, que é uma das mais belas de todo o território.




Museo Archeologico Alberto Manzi 

Outro local interessante em Pitigliano é o Archeologico Alberto Manzi. Inaugurado em 2004, o museu ao ar livre tem um caminho rodeado por uma vegetação abundante. 



Vinhas de Pitigliano

Também fazem parte da paisagem circundante as belas vinhas de Pitigliano, que são a base para um dos poucos vinhos brancos da Toscana, que contrariam o domínio dos grandes vinhos tintos dessa terra. 

Apreciado em todo mundo, o Bianco di Pitigliano tem até um festival em sua homenagem. Realizado no primeiro final de semana de setembro, trata-se da abertura das adegas ou “cantinelle”.




A festa começa numa quinta-feira e vai até o domingo para comemorar o vinho “novo”, ou seja, a nova safra à ser vendida. O festival é chamado "Adegas abertas"...  

Além do seu vinho muito especial, Pitigliano se destaca com sua rica culinária. Assim como em Firenze, há vários pratos típicos que incluem a carne de javali. Um deles é Gnocchi di pane al cinghiale.

Também deliciosos são os crepes finos recheados com ricota ou a Focaccia bastarda con ricotta e vin santo, assim chamada  de “bastarda” porque durante o cozimento a massa emerge do recipiente assumindo uma forma de cogumelo.

 


Sfratti

É imperdível o Tortello dolce fritto, uma pasta folhada recheada de ricota e canela, banhada com licor de alchermes ou o Tozzetti di Pitigliano, biscotos de amêndoas e frutas cristalizadas. Mas o doce mais famoso de Pitigliano é o Sfratti, que pode se encontrado em toda lojinha. 

Ele se assemelha a um bastão recheado com mel, frutas cristalizadas, anis e noz-moscada. Foi chamado Sfratti, que significa despejados, fazendo alusão ao édito emitido por Cosimo II de Medici.

Em 1600 foi ordenado que os judeus do distrito se mudassem para o gueto de Pitigliano. Para despejar os inquilinos, os mensageiros enviados batiam nas portas das casas judaicas com um bastão. Isso explica o formato do doce.



Festa della Contea 

A melhor época para saborear todas as delícias de Pitigliano é durante a Festa della Contea, que tem duração de três dias, geralmente próximo ao final do mês de agosto. 

A festa começa na quinta-feira e só termina domingo. Nas tabernas os banquetes renascentistas incluem pães, massas, carnes, queijos, saladas, salames, frios mistos e vinhos, tendo como sobremesa a Tarte de maçã com mel e passas.



Nesses dias, damas e cavaleiros invadem o centro histórico, criando um cenário medieval de rara beleza. Desfiles históricos, bateristas e menestréis fazem uma fascinante encenação histórica.

Personagens  caracterizaram a vila durante o Renascimento. Acrobatas, dançarinos, homens armados e arqueiros, prometem mergulhar completamente o visitante no Renascimento...



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Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.