11 fevereiro 2018

Carnaval em Ivrea





Ivrea é uma pequena e pacata cidade do Piemonte, exceto na época do carnaval quando seu ritmo é alterado pela tradicional e peculiar celebração: a "Batalha das Laranjas". 






Durante os 3 dias de festa acontecem desfiles com personagens históricos e a batalha, que representa a luta entre a tirania e os populares. Centenas de laranjas são arremessadas entre as equipes de combate, tornando a cidade cheia de suco e bagaços. 





Batalha das Laranjas

A origem dessa celebração está num episódio ocorrido na Idade Média.  Segundo contam, naquela época um soberano estabeleceu seu direito de passar a primeira noite de núpcias com cada mulher recém-casada.






Porém a filha de um Mugnaio ou moedor de cereais se recusou a acatar a ordem. Diante da recusa, o Duque ordenou que o povo deveria morrer de fome. 

A partir disso teve início uma revolta popular que culminou na queda do soberano. Esse episódio de determinação, coragem e resistência contra a tirania na Idade Média é relembrado na época do carnaval pela população de Ivrea.






A cada ano é escolhida uma Mugnaia, que é representada por uma jovem da cidade, cuja família deve investir na festa. Ela se torna um símbolo de carnaval e tem sua foto espalhada por todos os lugares. 

Para participar da batalha é necessário se inscrever antecipadamente e comprar o uniforme em uma das 9 equipes. Com suas roupas muito coloridas, eles trazem muita animação para a cidade. 

São mais de 50 carroças puxadas por cavalos, que levam os guardiões do Duque devidamente protegidos com armaduras.

Caminhando junto às carroças, seguem as equipes dos Aranceri que participam da batalha sem nenhuma proteção. Apenas atiram laranjas e são alvejados pelas laranjas atiradas pelos "Aranceri dei Carri da Getto". 

A batalha dura aproximadamente duas horas e depois de tantas laranjas voando para todos os lados, dá para imaginar a situação da praça. Fica difícil andar num lugar cheio de suco de laranja, por isso todos andam bem devagarinho para não escorregar. 





A batalha começa no domingo antes do carnaval, quando é servida a tradicional feijoada e termina na terça-feira de Carnaval. Na quarta-feira, o primeiro dia da quaresma, é dia de distribuir a polenta. 

Durante o evento acontecem muitas apresentações musicais e teatrais, além das bandas e fanfarras. Para quem quiser apenas assistir, há sempre um espaço protegido com uma rede. 

Dizem que no passado a batalha era feita com maçãs. A origem da tradição costuma não ser bem compreendida, especialmente porque laranjas não crescem nos arredores dos alpes italianos. Na verdade elas são trazidas da Sicília, sendo geralmente sobras da safra de inverno e impróprias para consumo.






Visitantes usam um gorrinho vermelho - o Phrygian, que representa a adesão à revolta mas sinaliza a não participação na batalha. Porém é inevitável não ser atingido pelas laranjadas. 

Apesar das equipes terem o cuidado de não acertar o público, algumas vezes uma laranja pode te acertar. Embora todos saiam sujos de suco, o evento é bem divertido.

Um dos locais da Batalha das laranjas é a bela Praça Ferruccio Nazionale, onde encontra-se o Palazzo Civico, que foi construído em 1758 com uma bela torre de sino. Alguns dias antes do carnaval, dezenas de caixotes cheios de laranjas são armazenados na praça para servir de munição para as equipes que seguem a pé.





Castelo de Ivrea


Bem perto da praça, onde é realizada a Batalha das Laranjas, encontra-se a Grande Rocca ou o Castelo de Ivrea, que foi construído em 1358 a pedido do Conde Amadeo VI de Saboia - o Conde Verde, que havia adquirido a cidade.

O local da construção foi escolhido porque o soberano desejava estar ao lado dos principais lugares do poder político e religioso: o Palácio Episcopal e o Palazzo della Credenza.  

Para abrir espaço para a nova construção, foi necessário demolir várias casas e parte das muralhas da cidade. Porém ele não viu a conclusão da obra. Atacado por uma terrível doença, ele morreu em 1383. Seu túmulo que ficava numa Capela de Campobasso foi destruído, restando hoje apenas algumas pedras. 

Concluído em 1395, a princípio o castelo tinha uma função defensiva. O acesso era feito através de uma ponte levadiça sobre um fosso. Na segunda metade do século 15 o castelo passou a ser a refinada residência da família Sabóia. Porém entre os séculos 16/17 alguns conflitos forçaram a mudança e o castelo passou a ter função militar. 

Ao final do século 17 um raio causou a explosão do depósito de munições, que destruiu uma das torres e diversas casas construídas perto do castelo. A partir desse fato, por quase 300 anos o castelo foi usado como uma prisão até 1970. 

Nesse período muitas modificações foram feitas na parte interna. Depois de 1970 o castelo permaneceu abandonado e fechado ao público. Após a restauração, foi aberto para visitação pública e hoje é um local para exposições de arte. 




Ponte Vecchio

Próximo ao castelo encontra-se o Museu Pier Alessandro Garda. Localizado na grande Praça Ottinetti, o museu conserva alguns achados arqueológicos interessantes. 

Acredita-se que nessa região tenha existido uma aldeia Celta no século 5 a.C., mas o primeiro registro na história mostra Ivrea como um posto avançado do Império Romano, que teria sido fundado no ano 100 a.C.

Na época romana o nome da cidade era Eporedia, por isso até hoje os habitantes da cidade são chamados Eporediesi. A oeste do centro da cidade existem restos de um teatro romano do século 1, que em sua época abrigava 10.000 espectadores. 

Outra construção muito antiga da cidade é a Ponte Vecchio que remonta ao ano 100. Originalmente foi construída em madeira e reconstruída em pedra em 1716. 





Catedral de Santa Maria Assunta

Também perto do castelo está a bela Catedral de Santa Maria Assunta. Originalmente essa igreja foi construída no século 4 sobre um antigo templo pagão, tendo sido remodelada no ano 1000 com as duas torres sineiras. 

Em seu interior existe um sarcófago romano antigo, que segundo a tradição, conserva as relíquias de San Bessus, co-padroeiro da cidade juntamente com San Sabino. 

Perto da Catedral está a Biblioteca Capitolare, que conserva uma importante coleção de códices do século 7 a 10. Na mesma praça encontra-se a Igreja de San Nicola di Tolentino, que é um dos emblemas de Ivrea. 





Festa de San Savino

Duas festas católicas estão enraizadas nas tradições da cidade mais antiga. Uma delas é a festa do padroeiro San Savino de Spoleto, que é  celebrado em 7 de julho. Durante a festa acontece uma feira, com exposição, desfiles e shows de cavalos, que tiveram muita influência na escolha do nome da cidade. 

Eporedia foi o nome dado pelos romanos a este lugar, para sublinhar o seu antigo vínculo com os cavalos. O nome deriva de epo (cavalo) e reda (carrinho), já que seus habitantes eram excelentes domadores de cavalos. As alterações e contrações subsequentes do nome levaram ao nome atual de Ivrea.





Torre Santo Stefano

A torre, que se encontra junto aos Jardins Giusiana, foi construída em 1041 pela Ordem dos Beneditinos. É o único vestígio que restou da Abadia de Santo Stefano, que foi destruída em 1558. O que restou da construção foi demolido no século 18 para ampliar os jardins do palácio do Conde Perrone. 

No ano 2000 a torre passou por um grande restauro, que a deixou com a aparência que hoje se vê. Também é possível admirar o antigo palácio que pertenceu à família do Conde Perrone. 

Adquirido pelo Coronel Amedeo Giusiana, passando a se chamar Palazzo Giusiana. Nesse palácio esteve hospedado Napoleão Bonaparte em 1800, tornando depois sede da Corte e do Tribunal.

Uma das principais ruas Ivrea é a Via Palestro, onde pode-se encontrar um amplo comércio. Com muitas lojas e restaurantes, ao final chega-se a uma praça onde existe um monumento que retrata uma mão segurando uma laranja, em alusão à Batalha das Laranjas. É também a partir dessa praça que começa o caminho para o Santuário di Monte Stella. 





Santuário do Monte Stella

Localizado no alto de uma colina, o santuário é um dos locais de grande  interesse histórico e artístico de Ivrea. Pelo caminho sinuoso que leva até o alto encontram-se as estações da Via Crucis. 

Construído em 1627, o santuário simbolizava a devoção à Madonna Nera. Apenas o campanário e uma parede adjacente restaram da antiga construção. A igreja atual, construída no século 19, é dedicada à "Madonna della Stella". 






Cappella dei Tre Re

No topo da colina encontra-se a pequena Capela dei Tre Re ou Capela dos Três Reis Magos, um destino de peregrinação que ocorre no dia da Epifania. O antigo ritual da procissão e da oferta de velas para a capela foi recentemente incorporado às celebrações do histórico carnaval de Ivrea, que todos os anos tem início no dia da Epifania. 




Museu de Arquitetura Moderna ao Ar Livre

Do outro lado da cidade encontra-se o Museu ao Ar Livre de Arquitetura Moderna. Inaugurado em 2001, ele é um dos principais edifícios construído pela Olivetti a partir da década de 1950. 

Apesar de ter muitas construções modernas, essas ruas contam grandes histórias do passado. Em Ivrea nasceu em 1868 o grande empreendedor Camillo Olivetti, que em 1908 fundou a primeira fábrica máquinas de escrever na Itália.













Antiga Fábrica da Olivetti


A pequena fábrica feita em concreto e coberta de tijolos vermelhos teve um início difícil, mas depois de uma exposição em Torino recebeu tantas encomendas, que teve de entrar em sua plena produção e abriu outras filiais. 

Gerenciada por Camillo Olivetti e depois por seu filho Adriano Olivetti e seu neto Roberto Olivetti, os produtos da empresa se tornou presente em quase todos os escritórios do mundo.

Devido a uma crise financeira, a Olivetti passou a ser gerenciada por um grupo de acionistas, porém demorou muito tempo para se adaptar as mudanças do mercado. Atualmente a empresa pertence à Telecom Italia. 

Ainda que mantenha mantém a produção de computadores, tablets, impressoras e outros itens de informática, nem de longe a marca possui a fama de antigamente. No entanto, permaneceu o exemplo do espírito empreendedor e criativo da família Olivetti.







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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.