01 julho 2017

Firenze 3 - Da Galleria degli uffizi ao Palazzo Pitti




Ao final do século 15 o mundo assistiu muitas mudanças e transformações, não só devido à expansão das viagens marítimas que propiciaram a descoberta de um novo mundo, mas também pela constatação de que se iniciava um novo tempo. Assim finalizava a Idade Média para dar lugar à Idade Moderna, fazendo também surgir um novo modo de pensar.

O Renascimento tinha por objetivo valorizar o ser humano e encontrar nas pessoas qualidades e virtudes negadas pelo pensamento católico medieval. Considerando que o ser humano ideal deveria buscar conhecer as artes e as ciências, pelo grau de conhecimento acumulado Leonardo da Vinci foi apontado como o homem ideal.

O período de maior produção renascentista na península itálica foi entre 1450/1550, tendo dado destaque não só para Leonardo da Vinci (1452/1519), mas também para Sandro Botticelli (1444/1510), Michelangelo Buonarroti (1475/1564), Rafael Sanzio (1483/1520), Galileu Galilei (1564/1642), Nicolau Maquiavel (1469/1527), William Shakespeare (1564/1616) e outros artistas e arquitetos.



Galleria degli Uffizi

 Durante o governo de Cosimo I de Medici surgiram importantes construções em Firenze, sendo uma delas a Galleria degli Ufizi. Sentindo a necessidade de criar um espaço para reunir num só local os escritórios dos magistrados da cidade, Cosimo I encomendou a construção da galeria em 1560.

Anos depois, a galeria foi ampliada por seu filho Francisco I de Medici, que desejava guardar num só lugar o enorme acervo quadros, esculturas, peças de porcelana e outras preciosidades espalhadas em dezenas de salas.




Em 1769 Peter Leopold de Lorena resolveu abrir a Galleria degli Uffizi para a visitação do público, tornando o museu como um dos mais visitados do mundo. Centenas de obras estão espalhadas em dezenas de salas e ambientes, que geralmente levam o nome do artista cujas obras estiverem em exposição.

A sucessão de obras é fascinante e de tirar o fôlego. Entre as obras da galeria destacam-se "O Nascimento da Vênus" de Botticelli e o "Duque e a Duquesa de Urbino" pintados por Piero della Francesca. Nesse labirinto de arte é fácil se perder entre as belas obras dos grandes mestres da arte.




As galerias de pintura estão no último andar e a sala de conexão entre as alas oferece lindos cenários do centro da cidade. Das janelas centrais com vista para o pátio pode-se apreciar a Piazza della Signoria. Pelas janelas opostas, tem-se um lindo panorama sobre o rio Arno, Ponte Vecchio e o Corridoio Vasariano.



Ponte Vecchio 

Ponto de referência em Firenze e seu cartão postal, a Ponte Vecchio é a ponte mais amada da cidade. Linda e requintada, ao atravessá-la pode-se encontrar lojinhas de prata e ouro, mas nem foi assim. Antes dela no passado, outras tantas já tinham sido construídas e destruídas devido às constantes cheias do rio Arno. Na época dos romanos havia apenas uma ponte de madeira, até que em 1345 foi feita a ponte definitiva em pedra.



Inicialmente foi ocupada por ferreiros, açougueiros e curtidores de couro. Como eles tinham necessidade de mais espaço, construíram desordenadamente pequenas salas que se acabaram se projetando sobre o rio, sustentadas por estacas de madeira. No entanto esses comerciantes jogavam muito lixo no rio e faziam muito barulho. Isso desagradou a vizinhança, fazendo com que o Grão Duque Ferdinando I proibisse em 1596 a permanência desses comerciantes na ponte.




E assim, a partir do século 16 a ponte passou a ser ocupada pelos ourives, a antiga figura do que hoje conhecemos como banqueiro. Na época o ouro era a única moeda de câmbio e os ourives se ofereciam para guardar em segurança a fortuna dos nobres, até que durante a Idade Média surgiu o que hoje conhecemos como cheque. Essa foi uma solução segura para transportar dinheiro durante as viagens comerciais pela Europa.




Embora o primeiro banco tenha surgido em Gênova em 1406, a cidade dos banqueiros era Firenze. Durante o século 15 havia na cidade 80 bancos, que emprestavam dinheiro à reis, papas e imperadores. Isto fazia uma cidade tão rica que o seu tesouro superava outros reinos ricos. Os banqueiros mais famosos de Firenze foram os Medici e Cosimo de Medici - O velho, chegou a ser o homem mais rico da Europa.




No meio da ponte existe um monumento dedicado a Benvenuto Cellini, um artista-escultor-escritor do século 16, considerado o ourives mais importante de Firenze. Aliás, uma de suas obras mais conhecida é "Perseus com a Cabeça de Medusa" localizada na Loggia dei Lanzi. Antigamente havia o costume de colocar cadeados aos pés do monumento e jogar a chave no rio, que simbolizava o amor insolúvel entre um casal. Porém atualmente essa prática é proibida e sujeita a severas multas.



Outras pontes de Firenze

Além da Ponte Vecchio, sobre o rio Arno estão outras pontes, cada uma com suas histórias e particularidades. Durante a Segunda Guerra Mundial, com exceção da Ponte  Vecchio, todas as pontes de Firenze foram destruídas. Logo depois foram reconstruídas e recuperados seus antigos detalhes.

A Ponte San Niccolò, Ponte alle Grazie, Ponte Santa Trinità, Ponte alla Carraia, Ponte Amerigo Vespucci, Ponte alla Vittoria e Ponte all'Indiano, além de serem uma ligação entre as duas margens do Arno, são lugares charmosos, de onde se pode admirar a cidade a partir de perspectivas únicas.




Corridoio Vasariano

Em 1565, por ocasião do casamento de seu filho, Cosimo I de Medici encomendou o projeto de um corredor de 1 km ligando o Palazzo Vecchio até o Palazzo Pitti. Construído em 1565 por Giorgio Vasari sobre a Ponte Vecchio, essa passagem privada permitia aos Medicis se moverem livremente e em segurança.




Atualmente nesse corredor encontra-se uma incrível coleção de retratos e pinturas do século 17/18. Quase ao final do corredor está a Torre Mannelli, que obrigou o arquiteto alterar o projeto, já que a família Mannelli recusou-se teimosamente a demoli-la para dar lugar ao corredor Vasari. Das janelas do corredor tem-se vistas únicas de Firenze. Porém, nesse momento não é possível passar pelo Corredor Vasari por estar em obras. A reabertura está prevista para 2018.



Palazzo Pitti

No passado muitas famílias competiam entre si para demonstrar maior riqueza e poder. Foi assim que os Medicis atrairam muitos inimigos, que buscavam superá-los. Um deles foi o banqueiro Luca Pitti, que em torno de 1460 encomendou a construção do Palazzo Pitti do outro lado do rio Arno, que deveria ser o maior e o mais lindo palácio de Firenze.

Porém dificuldades financeiras provocaram a paralisação das obras e Lucca Pitti faleceu em 1472 sem ver seu grande palácio concluído. A família Pitti continou residindo no palácio incompleto, até que em 1549 Buonaccorso Pitti resolveu vender o palácio para a esposa do Grão Duque Cosimo I.





A partir de 1550 o Palazzo Pitti se tornou a residência oficial dos Medicis, sendo anos depois entregue para a família Lorena-Habsburgo que sucedeu os Medicis no poder. Ainda que tenham sido mantidas as características estéticas originais, ao longo dos séculos o palácio foi gradualmente ampliado, até se tornar o maior palácio de Firenze.

No período da unificação italiana a família Habsburgo-Lorena teve de fugir da Toscana, momento em que o Grão Duque abdicou a favor de seu filho. Porém o novo Grão Duque não foi proclamado e seu hipotético governo terminou com a deposição da Casa de Habsburgo em 1859. Ao final de 1860 a unificação italiana foi concluída e Vittore Emanuelle II foi proclamado rei da Itália. Entre 1865 e 1871 Firenze foi a capital da Itália, época em que a cidade reconquistou o título de importante centro comercial e artístico.




Apartamentos reais

Nos esplêndidos apartamentos reais do Palazzo Pitti pode-se admirar a rica decoração e o mobiliário original dos séculos 16/17/18. Naturalmente a decoração e mobiliário mudou através do tempos de acordo com escolhas feitas pelas famílias que lá residiram. O aspecto predominante remonta a Umberto I e Margherita de Sabóia, que viveram no palácio em 1865.





Um dos destaques são os móveis feitos com a famosa técnica fiorentina, que ainda hoje é famosa em todo o mundo: a Opificio delle Pietre Dure. Os quartos são ricamente decorados com cenas mitológicas, além do famoso ciclo de afrescos chamados "Quatro Idades do Homem". Cada um dos 14 quartos recebe um nome, como Sala Verde, Sala Branca, Sala Vermelha, Sala Celeste, Sala do Trono, Sala da rainha, Sala do rei etc.




Galleria Palatina

Situada dentro do Palazzo Pitti, essa é uma das mais importantes pinacotecas da Itália, com acervos dos Médici e da família Lorena. Por seu tamanho e abrangência, a coleção é única, graças à herança de Maria Luisa de Medici que evitou sua dispersão. Algumas salas são dedicadas às esculturas, enquanto outras tem o nome dos afrescos que decoram suas paredes.





As maravilhosas obras do século 15, de Boticelli, Rafael, Filippo Lippi e outros estão dispostas em quartos elegantemente decorados com afrescos de estilo barroco. O ciclo de afrescos, feitos por diversos artistas, foram inspirados na mitologia greco-romana e na dinastia da Casa dos Medici. Algumas salas levam o nome de planetas, como a Sala de Vênus, a Sala de Júpiter, Sala de Marte, Sala de Saturno etc.



Museo degli Argenti 

O Museu da Prata, também é chamado de Tesouros dos Medicis, contém coleções que incluem peças especiais em marfim, jóias, cristais, porcelana chinesa e japonesa e retratos em miniatura. Uma característica interessante é a coleção de artefatos de porcelana exóticos e orientais, alguns dos Medicis e outros mais recentes.




Galeria de Arte Moderna

No segundo andar do Palácio Pitti está instalada a Galeria de Arte Moderna, que fornece uma visão abrangente da pintura italiana desde o final do século 18 até o início do século 20. O museu nasceu como uma coleção dos melhores trabalhos da Academia de Artes, que depois recebeu numerosas doações de coleções particulares.



Museu do Traje e Costume

O museu ocupa várias salas do Palazzina della Meridiana, um dos pavilhões do Palazzo Pitti com vista para os Jardins de Boboli. Fundado em 1983, o museu contém 6.000 peças, entre roupas e acessórios de moda do século 18 até as mais recentes criações, que foram doadas por costureiros mas também por celebridades.

Além de descrever a história da moda ao longo dos séculos, há nesse espaço belas criações dos designers mais famosos do século 20, como Valentino, Versace, Armani, Missoni e Saint Laurent. A coleção inclui vestidos de gala, roupas de alta moda, peças prêt-à-porter, assim como figurinos de teatro e cinema. Frequentemente o museu atualiza as rotas cronológicas e temáticas, assim como realiza exposições temporárias. No local também existe um laboratório de restauro, que é essencial para manter as roupas e acessórios.



Museo delle Porcellane

O Casino del Cavaliere, que foi o primeiro lugar para a recreação dos grão-duques da Toscana, hoje abriga a sede do Museu da Porcelana. As peças em exposição pertenceram aos Medicis e aos Lorena, mas também há doações de peças provenientes de outros soberanos europeus. O museu também herdou peças da família Sabóia após a unificação da Itália.

O acervo contém pratos, bules e xícaras, mas também vasos e estatuetas, todos decorados com lindos enfeites rococó e neoclássico. Também há interessantes peças feitas por antigos fabricantes de porcelanas, como um açucareiro em forma de uma tartaruga e um bule de chá na forma de uma galinha.







Giardino di Boboli

Fazem parte do Palazzo Pitti os maravilhosos jardins, que receberam o nome de Giardini di Boboli ou Jardins de Boboli, em referência a antigos proprietários das terras. Inicialmente projetados pelo arquiteto Bartolomeo Ammannati, ao longo dos anos os jardins foram expandidos e triplicaram sua extensão e abertos à visitação pública em 1766. No parque monumental encontram-se lagos, esplêndidas esculturas e obras de arte, além de um anfiteatro e recantos exclusivos, como a Caverna de Buontalenti construída em 1583.



Forte Belvedere

O topo do Jardim Boboli é parcialmente cercado pelas antigas muralhas defensivas de Firenze, pertencentes ao vizinho Fortezza di Santa Maria in San Giorgio del Belvedere. Mais conhecido como Forte Belvedere, essa valiosa obra arquitetônica oferece uma bela vista panorâmica de Firenze.

Com acesso pela Costa San Giorgio, pela Via Belvedere ou pela Via San Leonardo, em seu interior tem destaque o Palazzetto del Belvedere, um palácio dos Médici usado por estes em épocas de insalubridade na cidade.










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Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.