22 fevereiro 2022

Ferrara, joia do renascimento 2 - Loggia dei Mercanti

 


Loggia dei Mercanti

Em um dos lados da catedral encontra-se a Loggia dei Mercanti, um centro comercial onde se encontra de tudo um pouco, por isso antigamente era chamada "Loggia degli Strazzaroli".  

Requintadas lojas de grife encontram-se nas imediações da catedral e do castelo, onde você pode encontrar as últimas tendências da moda. Há também outras lojas espalhadas pela cidade, como o comércio da Via Garibaldi e Via Giuseppe Mazzini.



Museu Judaico 

Na Piazza Trento e Triste tem início a Via Giuseppe Mazzini, que teve um papel importante em Ferrara, tanto na área urbana e quanto socialmente. Nessa rua teve início em 1275 o assentamento do povo judeu, que se concentrou nas imediações da Via Mazzini. 

Aliás na Itália encontram-se os guetos judaicos mais antigos do mundo. A origem da palavra gueto é veneziana, já que o gueto mais antigo do mundo encontra-se instalado em Veneza desde 1516. Tendo se tornado por séculos como referência da cultura judaica, em Ferrara existe também um museu dedicado à cultura hebraica.

Centrado no tema do Torá – a Bíblia hebraica, no museu há uma coleção de objetos tradicionais e de culto, móveis antigos, decorações dos rolos da Torá, documentos e impressos. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos judeus que moravam em Ferrara foram presos pelos nazistas e levados para os campos de concentração, de onde jamais retornaram...   



Palazzo San Crispino 

Em frente à Piazza Trento e Trieste está o Palazzo San Crispino. Também conhecido como o Oratório dos Sapateiros, a loggia foi construída em 1257, quando o terreno pertencia à Catedral e foi cedido à Arte dei Callegari ou Arte dos Sapateiros. 

O oratório foi dedicado aos Santos Crispino e Crispiniano, por esses santos terem sido sapateiros. Os dois apoiaram a fé cristã e durante as perseguições do Império Romano aos cristãos, eles foram condenados à morte. A pintura que retrata os santos foi feita em 1750.

A aparência atual do Palazzo San Crispino deve-se a alguns trabalhos de restauração realizados no século 19, que lhe deram sua aparência neoclássica com as arcadas no térreo. As esculturas em sua fachada retratam importantes figuras da história da cidade. 

Também localizada nas proximidades da Piazza Trento e Triestre, a Piazzetta Sant'Anna foi originalmente um claustro dentro do primeiro hospital da cidade, que foi criado no século 15. No local existia um oratório dedicado a Sant'Anna, por isso o mesmo nome foi dado ao espaço. Numa das celas do claustro esteve preso o poeta Torquato Tasso devido à sua suposta loucura.    



 Teatro Nuovo de Ferrara 

Junto à Piazza Trento e Triste encontra-se o Teatro Nuovo de Ferrara, que tem uma programação variada. Construído em 1925 e reformado em 2015, o teatro tem formas clássicas. Seu interior é finamente decorado. Com capacidade para 400 pessoas, metade das cadeiras estão dispostas em linha reta, enquanto as restante seguem o formato oval. Porém, diferente de outros teatros, não há balcões.

   


Teatro Comunale

Muitos teatros foram construídos na cidade ao longo dos tempos, porém havia a necessidade de construir um teatro sofisticado e elegante para atender à demanda de ricos, nobres e intelectuais. Assim teve início em 1773 a construção do Teatro Comunale nas imediações do Castelo Estense. 



A obra demorou 23 anos para ser concluída e o teatro foi inaugurado em 1798 com a ópera Gli Orazi. Devido à necessidade de reparos, além da ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial, o teatro permanceu fechado. A partir de 1961 o teatro passou por restaurações que devolveram ao local o seu antigo esplendor. Hoje o espaço interno é surpreendente. 



Restaurado entre 1960/1980 o teatro em formato de ferradura tem capacidade para 1.000 pessoas. Os balcões alcançam até o teto finamente afrescado. Uma particularidade desse teatro é o seu pátio interno. Chamado de Rotonda Foschini, na antiguidade permitia que as carruagens entrassem pelo pórtico, deixassem os convidados protegidos da chuva e do frio e podiam sair em outra rua, mas esse espaço e circulação não é mais usado. 


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Ferrara, joia do renascimento 5 - Girolamo Savonarola

 


Nicolò d'Este III

Senhor de Ferrara entre 1393 a 1441) 

Alberto d'Este V morreu sem ter herdeiros, por isso foi sucedido por seu irmão Nicolò d'Este III em 1393. Homem de ação, o novo Marquês se tornou-se um estadista sagaz e ambicioso. 

Sempre trabalhando muito para manter o território Ferrarese, que era em sua maior parte pantanoso e improdutivo, foi durante seu governo que Ferrara converteu-se em um importante centro cultural recepcionando vários Papas. 

Embora a cidade tenha sido cedida para a família Este mediante um alto pagamento anual, a Santa Sé mantinha um estrito domínio, às vezes fazendo absurdas exigências ou interferindo até mesmo na vida particular das famílias. 

Pretendendo ter privilégios junto à Santa Sé, o Duque Nicolò III organizou em 1438 o Concílio Ecumênico, que pretendia unir as Igrejas do Oriente e do Ocidente, época em que a cidade tinha se tornado um importante centro cultural. 




Casa de Stella dell'Assassino

Nicolò III casou com uma jovem de 15 anos, mas ela faleceu algum tempo depois sem deixar-lhe filhos. Com sua amante favorita, Stella dell'Assassino, ele tinha 3 filhos adolescentes: Ugo, Borso e Leonello.

O sobrenome "dell’Assassino" devia-se ao fato do pai de Stella ser originário da cidade de Assis, ou seja, Assisino, que resultou em Assassino. Mas também pode ter derivado dos membros da famosa "Seita dos Assassinos"... 

A casa de Stella ainda pode ser vista na Via Cammello, uma construção imponente que hoje serve como sede da Contrata di Santa Maria in Vado. Era nessa casa que o Duque Nicolò III vivia seu amor secreto. 



Condenação de Parisina

Apesar de suas amantes, Nicolò III resolveu casar com Parisina Malatesta, que pertencia a uma família nobre. Também conhecida como Laura Malatesta, na época Parisina tinha apenas 14 anos de idade enquanto Nicolò III tinha 31 anos. Ela residia na Torre Rigobello e nas salas sob a biblioteca ela reorganizou seu novo lar. 

Durante uma viagem para visitar sua família, Nicolò III insistiu que ela fosse acompanhada de seu filho Ugo d'Este que tinha 20 anos. Os dois jovens se tornaram amantes e quando retornaram as empregadas do castelo denunciou-os. 

Ao descobrir o caso Nicolò III mandou que Parisina e Ugo fossem trancados na masmorra do castelo, antes de serem decapitados. A trágica história de amor inspirou escritores e músicos de óperas. Parisina morreu deixando duas filhas gêmeas: Lucia d'Este e Ginevra d'Este, que também  morreram na adolescência. 

Nicolò casou-se novamente e teve dois filhos: Ercole I e Segismundo I, mas foram seus filhos ilegítimos que o sucederam.  Apesar de ser um político hábil e sagaz, protetor das artes e de músicos, Nicolò III tinha acumulado muitos rivais e morreu envenenado durante a refeição da noite de natal...


Leonello d'Este / Senhor de Ferrara 1441/1450

Leonello era um filho ilegítimo Nicolò d'Este III, porém sucedeu seu pai e assumiu o poder em 1441. De gosto seleto e amante das artes, ele se cercou dos melhores artistas e mestres. Durante seu curto reinado artistas famosos estiveram na corte, como Piero della Francesca e Leon Battista Alberti. Em homenagem a seu pai ele encomendou o monumento equestre que encontra-se junto à entrada do antigo Palazzo Ducale.  

Leonello deu um novo impulso à Universidade de Ferrara, tornando-a um polo de atração para estudantes estrangeiros e acadêmicos enviados para lecionar em todas as faculdades. Embora tenha se casado por duas vezes, ele morreu sem ter os filhos herdeiros com os quais tanto sonhava, por isso ele foi sucedido por seu irmão Borso d'Este.


Borso d'Este /

Senhor de Ferrara 1450/1471

Borso d"Este era um homem de ação. Ambicioso, ele era o membro mais influente da família Este. Apesar de tentar promover a família, ter interesse pelas artes e música e ser muito apreciado por seus súditos, Borso era um sonhador de sonhos impossíveis. 

Certa vez ele apareceu com um projeto para construir uma montanha a partir do nada. Duramente criticado, teve de desistir de seu projeto. No entanto durante seu governo algumas obras enriqueceram a Catedral, como a porta esculpida. 

A corte de Borso foi o centro da chamada Escola de Pintura de Ferrara, onde ele oferecia a artistas e músicos o seu patrocínio.  Também fundou a Certosa e mandou fazer os afrescos Palazzo Schifanoia. 

Apesar de ser avarento no gasto com a cultura, ele é especialmente recordado pela famosa Bíblia com o seu nome, um dos mais famosos trabalhos em miniatura do renascimento na Itália. Borso d'Este morreu sem deixar herdeiros e foi sucedido por seu irmão Ercole I. 



Ercole d'Este I / 
Senhor de Ferrara 1471/1505

Ercole d'Este I era filho legítimo de Nicolò III e assumiu o poder em 1471. Com seus 40 anos e uma primorosa educação na corte aragonesa, ele estudou artes militares e cavalaria. Além de seu apurado gosto pela arquitetura e belas artes, Ercole I foi um dos mais significativos patronos do renascimento.  Em poucos anos ele mandou construir palácios, estradas, praças e conventos. 

A cidade dobrou de tamanho e a maioria dos palácios de Ferrara foram construídos durante seu governo. De uma pequena cidade medieval surgiu uma joia do renascimento urbanístico. Dois anos depois de assumir o poder, Ercole I casou com Eleonora d'Aragona. O casal teve seis filhos: Alfonso I, Isabella e Beatrice, Ferrante, Ippolito I e Segismondo II. Com sua amante, ainda teve dois filhos ilegítimos: Lucrécia e Giulio.


Beatrice d'Este

Palazzo Costabili / Museu Arqueologico Nacional

Ercole d'Este I era um nobre astuto e logo tratou de negociar o casamento de suas filhas com outros nobres. Com Ludovico Sforza, um nobre de Milão, ele negociou o casamento e sua filha Beatrice d'Este.O casal foi morar no Palazzo Costabili, que atualmente é utilizado pelo Museu Arqueológico Nacional. 

Em sua galeria estão vários tipos de objetos de excelente qualidade artística que mostram os estreitos laços culturais da Grécia antiga.  Há grandes vasos em que são retratados cenas da vida cotidiana, cenas mitológicas ou cenas que retratam a guerra de Tróia. Fascinante é o salão de ouro, que retrata a riqueza do povo etrusco no final do século 5. 



Isabella Este Gonzaga  /Senhora de Mantova

Com Francesco Gonzaga - Senhor de Mantova, Ercole I negociou o casamento de sua filha Isabella. Mulher de grande inteligência, bom gosto e amor às artes, ela mantinha tintas para que os pintores trabalhassem em obras de arte para ela. Conselheira do marido, ela vivia corrigindo seus erros diplomáticos, mas sua grande ambição era governar Mantova. Quando seu marido foi capturado, ela realizou seu sonho tornando-se a Senhora de Mantova. 



Girolamo Savonarola

Junto ao castelo encontra-se um monumento dedicado ao Frei Dominicano Girolamo Savonarola, que nasceu em Ferrara em 1452. Intelectual, estudioso de filosofia e medicina, ele decidiu renunciar à vida mundana opondo-se à imoralidade nas classes sociais. 

Disposto a combater as fraquezas humanas, seus sermões atraiam a atenção e causavam impacto no povo. Ele não interferia na política, mas conclamava o povo para uma vida cristã. Muitas pessoas queimaram publicamente seus artigos de luxo influenciado pelas palavras de Savonarola, fato que ficou conhecido como "Fogueira das Vaidades". 



Essa influência e suas violentas pregações contra os crimes da Igreja de Roma, trouxeram conflito com o Papa Alexandre VI e com nobres famílias e príncipes de cidades italianas. Em consequência, Savonarola foi excomungado e condenado à morte por ordem do Papa. 

Apesar dos pedidos de clemência feitos por Ercole D'Este I, Savonarola foi enforcado e teve seu corpo queimado na praça pública de Firenze. A cada ano Savonarola é homenageado em Firenze com o evento La Fiorita.   

Ercole I foi um dos nobres italianos que trouxe músicos e compositores europeus para a Itália. Famosos compositores europeus trabalharam para ele e dedicaram-lhe músicas. Entusiasta era música sacra e do teatro.

Em 1503 ele solicitou ao compositor que acabara de contratar, para escrever um testamento musical estruturado na meditação que Savonarola escrevera na prisão, Infelix ego. O resultado foi a obra prima "Miserere", provavelmente tocada pela primeira vez durante a Semana Santa de 1504 e cantada pelo próprio duque a partitura de tenor. 


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Ferrara, joia do renascimento 4 - Castelo Estense

 

Nicolò D'Este II 

Senhor de Ferrara em 1361/1388

Nicolò D'Este II sucedeu seu irmão Aldobrandino D'Este III e assumiu o poder em 1361, quando estava no vigor de seus 23 anos. Conhecido como aleijado devido a uma enfermidade nos pés, ele tentou consolidar sua posição no Vale do Pó arranjando casamentos para os irmãos, irmãs e sobrinhos com os membros das nobres famílias Gonzaga, Polenta e Malatesta.

Embora tenha expandido seu reino até o Veneto, Nicolò II teve que enfrentar infortúnios graves em sua própria cidade, como inundações, secas e pragas. Nessa época ele transformou Ferrara de um lugar pantanoso e insalubre em uma cidade limpa, com ruas pavimentadas, fortalezas e torres. 



Castelo Estense

Para melhorar a estrutura da cidade ele aumentou a tributação, mas o povo se revoltou e invadiu a Chancelaria matando o Chefe Fiscal de Ferrara. Foi devido a esse episódio, que ele quis melhorar a defesa do reino contra o povo faminto e sofrido de Ferrara. 

Assim Nicolò II mandou construir o castelo em 1385. Era dia de San Michelle, por isso o castelo foi dedicado ao arcanjo sendo chamado como Castello di San Michelle, mas ficou popularmente conhecido como Castelo Estense. 



Com suas imponentes proporções, seu fosso, suas pontes levadiças, torres e uma passagem elevada que ainda existe, hoje as imponentes torres se destacam nos quatro cantos do Castelo, símbolos da imponência da Família Este. 

Cada torre foi batizada com um nome: Torre de Santa Caterina, Torre Marchesana, Torre de San Paolo e a esplêndida Torre dei Leoni, de onde se tem um panorama de Ferrara. Séculos se passaram e não tendo mais o risco de motins, o castelo tornou-se a magnífica residência do tribunal.



O Castello Estense é o retrato da história da cidade. Poucos castelos europeus tem uma história tão conturbada quanto o Estense. Além de poder apreciar sua imponência e a beleza dos seus salões e quartos aristocráticos, ao entrar no castelo você pode sentir os episódios que ali aconteceram.

Tudo o que se vê hoje no castelo resultou das diversas restaurações feitas pelos descendentes da família Este, no entanto muitas peças são originais. No pátio interno do castelo pode-se viajar na imaginação sobre os episódios ocorridos na corte.



A poucos metros da entrada sul do Castelo Estense há uma enorme cópia em tamanho natural de um antigo canhão chamado “Regina”, que foi feito em 1556 para o Duque de Ferrara Ercole II. A atual cópia foi feita em 1985 por ocasião do VI centenário do Castelo Estense, tendo seguido as mesmas técnicas de construção da época e tendo como base numa gravura. 

O percurso de visitas no castelo é dividido em seus dois andares. O térreo é de origem medieval, com a cozinha e as prisões. O primeiro andar é a área residencial, onde se destacam os tetos afrescados. Para não ficar com torcicolo, aproveite os espelhos inclinados que refletem o teto.



Alberto D'Este V 

Senhor de Ferrara entre 1388/1393

Nicolò II morreu aos 50 anos deixando dois herdeiros: Alberto V e Nicolò III, mas foi Alberto V que sucedeu seu pai em 1388. Com a maturidade de seus 39 anos, numa tentativa de reconquistar a confiança do Papa ele foi até Roma. 

Contente com a visita, o Papa Bonifácio IX permitiu-lhe todos os privilégios solicitados. As dívidas da família foram canceladas e o Papa autorizou a construção de uma universidade, que teria os mesmos direitos de Bologna e Paris. 



Università degli studi de Ferrara

Nascia assim a Università degli studi de Ferrara, que recebeu alunos famosos. Dessa forma Alberto V começou a sonhar com uma cidade que pudesse impressionar e deslumbrar com seu esplendor. Em 1391, um século antes do descobrimento da América, Ferrara já tinha a sua universidade com cursos de arte, teologia e jurisprudência. 

Em seu campus estudaram Copernico, Paracelso, Savonarola, Ludovico Ariosto e ainda hoje grandes personalidades se formam em Ferrara. Único campus do mundo protegido por nove quilômetros de muralhas, cerca de 80% são estudantes provenientes de outras regiões ou do exterior, que são atraídos para Ferrara devido ao alto nível de especialização. 

Quando ocorreu o incêndio no Museu Nacional no Rio de Janeiro em 2018, a Universidade de Ferrara expressou solidariedade e se disponibilizou a ajudar na reconstrução do acervo do museu brasileiro. Além dos diversos campus espalhados pela cidade, a universidade mantém diversos museus. 



 Palazzo Bevilacqua-Costabili

Situado na Via Garibaldi, esse é um esplêndido palácio construído em 1430, que foi encomendado pela família Bevilacqua-Aldobrandini, por ocasião do casamento de Cristin Bevilacqua e Lucia Ariosti. 

Em 1602 o palácio foi habitado pelo Cardeal Bonifacio Bevilacqua e em 1710 por Ercole Bevilacqua, um juiz de Ferrara, que deixou seu nome gravado no palácio. Em 1830, o Marquês Giovan Battista Costabili comprou e restaurou o palácio, acrescentando seu nome ao palácio.   

Ao adquirir o palácio em 1916, Francesco Mazza utilizou o imóvel em diversas atividades. Após uma longa restauração o palácio reabriu, sendo agora a sede da Faculdade de Economia da Università degli Studi di Ferrara. Em algumas salas ainda se encontram afrescos nos tetos e paredes.



Palazzo Bentivoglio

Assim como o Palazzo Bevilacqua-Costabili, esse palácio situado a poucas quadras do Castelo Estense é uma elegante residência. Foi encomenda pelo Duque Borso d'Este em 1449, para ser oferecida como presente a seu apoiador, Pellegrino Pasino. Pouco tempo depois, Pasino vendeu o palácio para a família Roverelli, que o revendeu para o Marquês Cornelio Bentivoglio, do qual o palácio herdou o nome. 

Grande parte da decoração que vemos hoje deve-se ao projeto de decoração feito por Bentivoglio, que mandou inserir na fachada símbolos de troféus militares em mármore. Até o século 19 o palácio permaneceu em propriedade da família Bentivoglio, até se tornar um prédio de escritórios particulares.



Palazzo del Schifanoia  / Museu de Arte Antiga. 

Construído entre 1385-1391 por ordem de Alberto V, esse era um local de refeições ao ar livre e lazer onde os nobres iam se divertir. O nome do Palazzo del Schifanoia quer dizer: "o palácio que espanta o tédio". 




Ampliado posteriormente ampliado por Borso D'Este, o palácio se transformou numa suntuosa residência. O grande portal na entrada esculpido em mármore tem acima da porta o brasão da família Este. Há também um e um unicórnio, uma das chancelas usadas por Borso D'Este. 




Localizado na Via Scandiana, no local funciona o Museu de Arte Antiga, onde estão expostas centenas de peças e pinturas. Cada sala recebe um nome diferente, como Sala dos Meses, Sala das virtudes etc. Em cada uma de suas dez salas há um estuque diferente nas paredes e teto. 

Após o terremoto em 2012 o palácio passou por uma restauração e ampliação e apenas recentemente retomou as visitas. Hoje o museu se mostra mais moderno e mais envolvente. Agora são 21 salas e 1400 metros quadrados de percurso expositivo, além de várias integrações multimidias, que permitem conhecer a história e acompanhar virtualmente a reconstrução do palácio em várias fases.



Lapidário Cívico / ex-Igreja Santa Libera

Antigas igrejas de Ferrara foram transformadas em museus e locais de eventos. Esse é o caso da ex-Igreja de Santa Libera, atualmente sede do Lapidarium. Construída no século XV na esquina entre a Via Scandiana e a Via Camposabbionario, o imóvel encontra-se em frente ao Palazzo Schifanoia. O museu preserva uma interessante coleção de mármores romanos da região de Ferrara. A maioria deles pertenceram a urnas funerárias no século I.

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Ferrara, joia do renascimento 3 - Dinastia Este

 




Ducado de Ferrara

Até o século 3 a.C. a região era um importante e próspero empório comercial. Após a queda do Império Romano do Ocidente em 476, os bispos tinham muito prestígio e, por isso, receberam muitas terras na região, entre elas o local onde surgiu Ferrara. 

O antigo Ducatus Ferrarie foi citado pela primeira vez no ano de 755, quando pertencia aos Estados Pontifícios e foi o próprio Papa quem entregou a cidade em troca do pagamento de um tributo anual. 

Administado na época pela família Canossa, após a morte da Condessa Matilde de Canossa, que era grande defensora do Papa, renascia em Ferrara o Ducado. Na época o Ducado de Ferrara incluía a província de Ferrara, a Transpadana Ferrarese - hoje na província de Rovigo e a chamada Romagna d'Este - hoje na província de Ravena, ou seja, o Ducado mantinha o controle de uma grande região.



Dinastia Este

Ferrara é um museu vivo de sua fascinante história, estando estreitamente ligada à história da família Este. Foi durante a Dinastia Este, entre 1208 a 1598, que Ferrara viveu seu período glorioso, cresceu e obteve sua importância cultural.

Em meio à abundante vida intelectual, muitos estudiosos, músicos e artistas foram atraídos para Ferrara. Como Ferrara era um feudo papal, os Estes converteram-se em vigários papais e governaram Ferrara por mais de 300 anos. 

Essa continuidade política e administrativa fez o esplendor de Ferrara e deu ao tribunal Estense grande prestígio na Europa. Muitos monumentos e palácios foram construídos durante o governo da família Este, transformando a cidade em um centro de aprendizagem e de artes, criando a beleza urbana que vemos hoje.


Obizzo d'Este II 

Senhor de Ferrara 1252/1293

A Dinastia Este teve início com o Obizzo II, que assumiu o poder definitivamente em 1252. Ele era um filho bastardo de Rinaldo D'Este I, o único herdeiro de Azzo D'Este VII com uma lavadeira napolitana. 

Logo após seu nascimento, sua mãe foi expulsa da cidade. Porém destino mudou quando Rinaldo D'Este I foi envenenado pela esposa que era infértil. Por não haver herdeiros legítimos, Obizzo II foi reconhecido como sucessor, porém sua mãe foi afogada no Mar Adriático por opositores. 

Obizzo II cresceu, casou com a sobrinha do Papa Inocêncio IV e teve 5 filhos: Azzo VIII, Aldobrandino II, Francesco, Beatrice e Maddalena. Na época Ferrara não tinha estrutura urbana. Vendo que sua residência estava num local vulnerável aos ataques de inimigos e que, a terra era pantanosa, insalubre e improdutiva, Obizzo II decidiu erguer seu palácio em frente à catedral. 



Palazzo Ducale / Palazzo del Municipio 

O Palazzo Ducale foi construído originalmente em 1245, para ser a residência do Duque Obizzo II e sua família. Situado em frente à catedral, atualmente é chamado como Palazzo del Municipio, uma repartição pública destinada à administração social e política de Ferrara. 




Sua dimensão atual deve-se às diversas ampliações através dos tempos. Os dois monumentos em homenagem aos Duques Nicolò D'Este III e Borso D'Este foram acrescentados anos depois, por outros governantes da família Este. 



Torre della Vittoria

Anexa ao Palazzo Municipale encontra-se a Torre della Vitoria, uma construção imponente que que se destaca. Construída no século 14 em estilo gótico, essa torre desmorou devido ao terremoto que sacudiu a cidade em 1570. 

Reconstruída e restaurada, sua reinauguração coincidiu com as celebrações pela vitória na Primeira Guerra Mundial, o que lhe deu o nome.  Na base da torre está a estátua de bronze dourada "La Vittoria del Piave". 



Volto del Cavallo / Pátio Ducale / A Escadaria da Honra

A entrada para o Pátio Ducale é feita através do Volto del Cavallo. Do pátio é possível ver as janelas de mármore dos apartamentos e a grande escadaria. Em seu interior há inúmeros ambientes decorados com afrescos, mas também com aplicações de madeira e esculturas. 

Belas telas se destacam junto com as tapeçarias flamengas. Uma das salas é a chamada Camerino delle Duchesse, uma pequena sala que foi coberta por painéis de madeira entre 1555 e 1560, onde as mulheres da corte permaneciam em gande parte do dia. 

 

Azzo D'Este VIII

Senhor de Ferrara 1293/1308

Depois de 42 anos no poder, Obizzo II faleceu em 1293, o que ocasionou violenta disputa entre os seus sucessores. Seu filho Azzo D'Este VIII assumiu o poder e herdou as terras da família. Havia uma suspeita de que ele teria assassinado o próprio pai para sucedê-lo, mas nada foi confirmado. No entanto, ele foi citado por Dante na Alegoria do Inferno.

Azzo VIII passou quase todo o tempo de seu governo entrando em guerras e conflitos. Num pacto nupcial ele concedeu 51.000 florins ao sogro e deu seus irmãos Francesco e Beatrice como dote. Os irmãos fugiram de Ferrara e juntaram-se à coalisão movida contra Azzo VIII. Depois de 15 anos no poder, Azzo VIII morreu em 1308 sem deixar herdeiros.



Aldobrandino D'Este II  

Senhor de Ferrara 1308/1317

Azzo VIII foi sucedido por seu irmão Aldobrandino II, que governou Ferrara durante 18 anos. Após sua morte, ele foi sucedido por seu filho Obizzo III que assumiu o poder 1326. 


Obizzo D'Este III  

Senhor de Ferrara 1317/1352

Com uma natureza jovial de seus 32 anos, Obizzo III foi um dos mais bem-amados príncipes da Casa dos Este. Além de manter boa política com a Santa Sé e outras importantes e nobres famílias, ele cunhou a primeira moeda de Ferrara. 



Aldobrandino D'Este III 
Senhor de Ferrara 1352/1361

Aldobrandino III sucedeu seu pai em 1352, quando tinha apenas 17 anos. Foi um dos primeiros príncipes italianos indicados para acompanhar Charles IV em sua marcha para Roma para receber a coroação imperial, por isso tinha inúmeros privilégios. No entanto, ele morreu prematuramente aos 26 anos e foi sucedido por seu irmão Nicolò D'Este II. 


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Ferrara, joia do renascimento 6 Banquetes da corte

 


Alfonso d'Este I 

Senhor de Ferrara 1505/1520 e depois de 1527/1534

Em 1505 o Duque Ercole d'Este I faleceu e foi sucedido por seu filho Alfonso d'Este I, que tinha 29 anos de idade. Durante seu governo ocorreram muitos eventos políticos e guerras, mas também grande crescimento artístico e cultural. Dando continuidade à expansão da cidade iniciada por seu pai, ampliou o castelo e modernizou as cozinhas até salas de estudo.

Com muita astúcia Ercole I tinha negociado o casamento de seus filhos com prestigiadas famílias nobres. Ele negociou o casamento de seu filho Alfonso I com Anna Sforza, porém ela faleceu. Com relutância ele concordou que seu filho Alfonso I se casasse com Lucrécia Borgia. 

Filha do Papa Alexandre VI, alguns diziam que Lucrecia mantinha relações incestuosas com o pai e com o irmão, porém o Papa tinha feito notáveis doações territoriais para o Marques e ele não pode interferir. 



Lucrecia Borgia

Aos 21 anos Lucrecia já estava em seu terceiro casamento e era uma mulher tão astuta e inteligente que o Papa em suas ausências confiava-lhe a administração da Santa Sé. Ela entrou para a história como a mulher mais bonita e sedutora de Roma. 

Conta-se que ela  tinha envenenado seus amantes com um estranho pó que mantinha guardado dentro de um anel. No entanto em Ferrara ela foi admirada por seu refinado senso político, amada pela população e apelidada de "A Mãe do Povo". 

Lucrécia e Alfonso I tiveram 4 filhos: o Cardeal Ippolito II, Eleonora, Francesco e Ercole d'Este II. Com a morte da esposa, Alfonso I teve mais dois filhos com uma amante: Alfonso e Alfonsino. Eles não foram reconhecidos como filhos legítimos e sucessores. Alfonsino I faleceu ainda jovem e Alfonso teve 5 filhos: Eleonora, Ippolita, Cardeal Alessandro, Alfonsino II e Cesare que era o mais novo. 

Por participar da liga contra Veneza, Alfonso I foi privado das suas posses. Foi excomungado pelo Papa quando tinha 32 anos, mas em pouco tempo obteve a revogação da excomunhão. Porém o Papa recusou a reintegração de posse dos seus bens. Somente com a intervenção do Imperador Carlo V ele conseguiu recuperar seus bens, porém Alfonso I já tinha 54 anos e logo depois morreu, sem poder usufruir de sua fortuna.



Marfisa d'Este / Palazzina Marfisa

No Corso della Giovecca encontra-se a Palazzina Marfisa, uma mansão que pertenceu a Francesco d'Este - filho de Alfonso d'Este I. Francesco d'Este não tinha herdeiros legítimos, por isso estava impedido de suceder seu pai. Porém tinha duas filhas nascidas fora do casamento, Bradamante e Marfisa, que foram educadas como todas as princesas da família. 



Marfisa D'Este

Tal qual sua avó Lucrécia Bórgia, Marfisa D'Este tinha um charme incomum e também a reputação de ser rebelde. Com sua natureza inquieta e lunática, Marfisa adorava dançar em seus tempos livres. Sem dúvida, era o centro da vida da corte. Ainda jovem casou-se com seu primo Alfonsino II, mas o casamento foi muito breve pois ele morreu em três meses.   

Logo depois ela casou-se com um príncipe herdeiro de Massa e Carrara. Com sete filhos, eles moravam na Palazzina Marfisa d'Este, um esplêndido exemplo de residência de classe alta do século 16. A residência era cercada por magníficos jardins, que conectavam a outros palácios conhecidos como Casini di San Silvestro.




Mesmo depois de sua família ter sido obrigada a se mudar de Ferrara, devido à transferência para os Estados Pontifícios em 1598, Marfisa não recuou. Quando o Papa - o novo senhor da cidade - chegou em Ferrara, ela se recusou a prestar-lhe homenagens. Dez anos depois ela morreu na Palazzina. Embora tenha recebido o reconhecimento de muitos por sua caridade, ela sempre era lembrada por sua personalidade rebelde.

Aberta à visitação pública, a Palazzina de Marfisa, com fachada de  tijolos vermelhos, grandes janelas e um portal de mármore, tem um só piso, mas é belissimamente decorada. Além do caro mobiliário, há uma valiosa coleção de objetos de arte e outras antiguidades.  


Torre dei Leoni

Ippolito D'Este I e Giulio D'Este

Embora Alfonso d'Este I fosse protetor dos poetas, ele era cruel. Ele tinha vários irmãos, entre eles o Cardeal Ippolito D'Este I e Giulio D'Este, que era o irmão mais bonito e mais rebelde. Esses dois irmãos eram amigos, porém foram divididos por um profundo ressentimento e começaram a se odiar porque amavam a mesma mulher. 

A jovem declarou abertamente sua preferência por Giulio e isso desencadeou a ira do Cardeal Ippolito I, que quis vingar-se tentando matar Giulio com uma punhalada. Ferrante era outro irmão que tinha ambição de assumir o poder. Juntando-se a Giulio, eles tramaram vingar-se do Cardeal Ippolito I e também matar o Duque Alfonso I. Porém a trama foi descoberta e os irmãos foram condenados à forca. 

No entanto, quando subiam para a sentença de morte, Alfonso I mudou a sentença e os condenou à prisão perpétua na Torre dei Leoni. Ferrante morreu na prisão e Giulio foi perdoado 53 anos depois, porém ele já estava muito velho e morreu.



Banquetes da Corte

Um reino era considerado grandioso pelos banquetes servidos, por isso os nobres se cercavam dos melhores cozinheiros. Na corte de Alfonso d'Este I existia um grande mestre, Christophoro Messisburgo. Nascido em Ferrara, na verdade Christophoro  era como um mordomo administrador e se tornou um famoso Mestre de Cerimônias pela organização de suntuosos banquetes no Castelo Estense.

Em 1529 o mestre serviu um maravilhoso banquete no casamento de Ercole II, que foi composto de inúmeros pratos diferentes com faisão, pombo, coelho, trutas, peixes, mariscos, enguias, massas, carnes, vegetais crus, molhos, bolos, doces e frutas. Os convidados ficaram maravilhados com a quantidade e qualidade do banquete, o que deixou o duque satisfeito e  Christophoro muito feliz pelos elogios recebidos. 


Depois da morte de Christophoro, em 1549 foi publicado o livro póstumo "Banchetti, compositioni di vivande et apparecchio generale" que era um imaginativo manual de culinária do século 16. Suas receitas revelam o uso indiscriminado de açúcar e canela, pinhões e passas espalhadas em quase todos os pratos. 

Naquela época, o açúcar era privilégio dos ricos, além de uma abundância de ervas e especiarias. Em seu livro são revelados pratos da alta cozinha de sua própria invenção, mas também aqueles obtidos pelo rearranjo de receitas populares ou reorganizando tradições estranhas e exóticas para o gosto local da época; uma livre reinterpretação da cozinha no renascimento.



Pão torcido

Típico de Ferrara é o Pão Torcido, que apareceu em 1536 durante um jantar oferecido em honra do Duque de Ferrara. Mudando a forma do pão chato, o pão ganhou elegância tornando-se orgulho da gastronomia italiana. 

Dizem que o segredo de sua receita está na qualidade da água, dos ingredientes e na fermentação. Os turistas que passam por uma padaria em Ferrara não podem resistir ao tentador cheiro do pão fresco saindo do forno que penetra no ar. 


 Pampato ferrarese

Dizem que foi o Chef Christophoro Messisburgo quem desenvolveu a receita do Pampapato - o Pão do Papa. Enriquecido com amêndoas, avelãs e frutas cristalizadas, o pão coberto de chocolate era servido como sobremesa para a nobre família Este e para o clero, tornando-se uma tradição de Ferrara. 

Na época representava um luxo reservado para poucos, já que o cacau era uma preciosa mercadoria que tinha chegado na Europa através das cortes. Hoje o pampapato pode ser encontrado em diversas padarias e restaurantes de Ferrara.



Cappellacci di Zucca Ferraresi

Ferrara oferece variadas opções gostosas como as pizzas e a Piadina. Porém mais famoso é o "Cappellacci di Zucca Ferraresi", que também era uma das delícias preparadas para os membros da família Este. Ainda hoje são feitos com os mesmos ingredientes de séculos passados, exceto pela adição de especiarias como gengibre e pimenta que eram escassos na época. 

Conhecido como "Tortelli di zucca con il Butirro ou Tortelli de abóbora com manteiga", no dialeto local são chamados Caplaz devido ao formato dos chapéus que eram usados pelos camponeses de Ferrara. Feito com abóbora cozida no forno, queijo Grana Padano e temperos, as cuias eram aproveitadas no passado para beber água, vinho ou para preparar pólvora.  


Zia ferrarese 

As origens do Zia Ferrarese também é da época do renascimento e consta no livro de Christophoro Messisburgo. Esse tradicional salame, que era servido nas refeições do Duque de Ferrara, é baseado em carne de porco e depois temperado é marinado em vinho branco. Dizem que é exatamente o vinho branco produzido no campo ferrarese, que dá o inconfundível sabor ao Zia que é mantido em adega fria por 5 a 6 meses.


continua no post Ferrara 7...



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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.