02 janeiro 2021

Torino 9.1 - Castelos e palácios de Torino

 



Castelo Valentino

Inserido no coração do Parco Valentino, o Castello Valentino é testemunha do passado da nobre família Sabóia, cujo brasão da Casa di Savoia se destaca na fachada.  

Comprado pela família Savoia em 1275, o castelo tem dois lados diferentes: um em estilo barroco com um grande pátio e a outra fachada voltada para o rio.






Todo o estilo do Castelo del Valentino refletiu o gosto da Madame Real Marie Christine de France. 

O castelo já existia há muito tempo, até que a duquesa Christine Marie de France, esposa do rei Vittorio Amadeo I di Saboia, encomendou a ampliação do castelo entre 1630-1660, tendo sido a sua residência preferida. Na corte ela realizava grandes festas. 






Marie Christine se casou com o Duque Vittorio Amadeo I quando tinha apenas 13 anos. Nascida em 1606 e educada na corte francesa, ela havia introduzido a cultura francesa na corte de Sabóia. 

Certo dia seu marido foi participar de um jantar e ao retornar faleceu inesperadamente. Após a morte de seu marido a duquesa passou a governar Torino e mudou-se para o Palazzo Madama, onde faleceu em 1663. 






Durante muitos anos o Castelo Valentino permaneceu abandonado, mas foi o abandono do castelo que permitiu conservar os afrescos originais da época. Há poucos anos foi aberto o esplêndido salão do zodíaco, representando o rio Po com as características de Poseidon. 

Ao lado do castelo está o Jardim Botânico. Restaurado em 1860, o castelo já foi ocupado pela Faculdade de Engenharia de Torino w hoje é a sede da Faculdade de Arquitetura da Universidade Politénica de Torino. 






Villa Regina

Muitos palácios e castelos nas imediações de Torino eram usados pela família Saboia como residências temporárias ou pertenciam a algum ramo da família. Um desses palácios é a Villa Regina. 






Situado no alto da colina perto de Torino,  a magnifica construção se destaca. Originalmente foi construído como residência do Cardeal Maurizio di Saboia. Em 1684 foi herdado por Anne Marie d'Orleans, esposa do Duque Vittorio Amadeo II. 






Doado para o estado em 1994, hoje o castelo encontra-se aberto para visitação do público, cujos recursos servem para custear a manutenção da magnifica construção. Acima do castelo está o Pavilhão Solinghi, onde se reuniam os intelectuais da Academia fundada pelo cardeal.   





                                     Reggia de Venaria Reale

Outros belos palácios situam-se em locais mais distantes, como a Reggia de Venaria Reale, a Pallazina de Caça em Stupinigi que servia como residência de verão e os castelos em Moncalieri, Raconigi e Rivoli. Além de sua imponência e beleza, cada um guarda uma história interessante.






Localizada na comuna de Venaria Reale, essa foi uma das principais Residências da Casa de Savoia no Piemonte. 

É provável que tenha sido a maior de todas elas. Foi projetada e construída entre 1658-1679 por encomenda do Duque Carlos Emanuele II, que tinha a intenção de fazer da bela mansão a base para as batidas de caça.






Com uma extensão de 80.000 m2, o enorme complexo inclui o parque onde foi construído uma espécie de colar que evoca diretamente o Colar da Ordem Suprema da Santíssima Anunciação, símbolo da Casa de Savoia.

Em seu interior encontram-se estuques, estátuas e milhares de pinturas. Os extensos bosques junto à mansão se estendem por uma centena de quilômetros até as montanhas alpinas. 






Ao longo dos anos foram surgindo muitas casas de trabalhadores que desejavam habitar nos arredores do palácio real, o que levou à criação da comuna autônoma da Província de Torino. 

Restaurada através dos anos, recentemente a Reggia di Venaria Reale viu renascer as suas ambientações naturais, porém somente uma parte da mansão está aberta para visitação pública. 





Palazzina de Caça de Stupinigi

Localizada em Stupinigi, uma comuna na periferia de Torino, o palácio faz parte do circuito de residências da Casa de Saboia, tendo sido proclamado Património da Humanidade pela Unesco. 

Sua construção teve início a partir de um pequeno castelo, mas foi o duque Vittório Amadeu II que promoveu em 1730 a transformação do complexo numa palazzina digna da nova figura Real. 





Com inúmeros quartos e salas, na palazzina destaca-se o grande salão. Localizado no coração da construção, durante alguns anos o salão hospedou um elefante indiano macho, que fora oferecido a Carlos Félix - rei da Sardenha entre 1821 e 1831. 

O elefante Fritz tornou-se famoso, porém após alguns anos confinado, o elefante enlouqueceu e destruiu tudo à sua volta.  

Os sinais da destruição ainda são visíveis nas partes de madeira. Em vista disso o elefante foi abatido e doado ao museu zoológico da Universidade de Torino, cujos restos mortais encontram-se no Museu Regional de Ciência Natural. 





Castello di Racconigi

O imponente Castello Reale de Racconigi foi a residência preferida de Carlo Emanuele I de Saboia e de todos os reis da Itália. Sabe-se que o palácio já existia no ano 1.000, mas somente passou para os domínios da Casa di Savoia em 1620. 






Na época o castelo era uma sólida fortaleza em tijolos, com quatro grandes torres, fosso e ponte levadiça, até que em 1676 Emanuele Felisberto di Saboia encomendou sua completa transformação em Villa de Recreio, uma espécie de residência de verão.

Quando a obra foi concluída, em 1684 Emanuele se casou com Maria Caterina d'Este, filha de Borso d'Este - Duque de Ferrara, transformando o castelo em sua residência. Herdado por seus descendentes, através dos anos o castelo foi remodelado várias vezes. 






Nesse castelo nasceu em 1904 Umberto II, o último monarca italiano que recebeu o palácio como oferta de casamento. O item de decoração encomendado por ele foi o reagrupamento dos retratos de família e das mais nobres dinastias da Itália, o que originou cerca de 3.000 quadros. 

Junto ao castelo existe um parque com cerca de 180 hectares, fontes e jardins com canteiros floridos. Em 1980 Umberto II cedeu a imponente estrutura ao Estado, tornando-se anos mais tarde um centro de arte e cultura.  Desde 1997 o castelo faz parte do Patrimônio da Unesco. 




Castelo di Moncalieri

O Castello Real de Moncalieri foi encomendado por volta do ano 1200 por Tomás I de Sabóia, que desejava ter uma fortaleza para controlar o acesso a Torino. 

No século XV o duque Amedeo IX de Sabóia mandou ampliar a estrutura para transforma-la em uma residência ducal. Essa era a residência favorita do rei Vittorio Amedeo II, que ali faleceu em 1732. 






Em 1798, quando as tropas francesas invadiram a cidade, Moncalieri foi o primeiro castelo a ser ocupado, tendo servido como quartel, hospital militar e prisão, enquanto a área do parque foi usada como um cemitério. 

De volta às mãos da família Saboia, foi feita uma grande restauração do complexo. Considerado um dos castelos mais assombrados da Italia por presenças espirituais, em 2017 o castelo acolheu a primeira edição do Festival Internacional de Esoterismo. 





Castelo de Rivoli 

O imponente Castelo de Rivoli ocupa uma posição estratégica no Valle di Susa e atualmente é a sede do Museu de Arte Contemporânea, tendo um acervo com inúmeras obras de grandes artistas. 

O museu mantém um histórico da arte contemporânea no mundo e um espaço para exposições sazonais. Seus aposentos contém afrescos interessantes que retratam um gosto eclético da nobreza, sendo duas salas decoradas com elementos da mitologia grega. 

A nobre família Sabóia tinha predileção por decorações com elementos mitológicos gregos, que podem ser notados nas residências da família e nas construções das igrejas e teatros. 

Talvez devido à lenda que conta sobre a criação de Torino, os nobres pretendiam registrar o acontecimento em seus palácios e assim eternizar o relato para gerações posteriores. 





Segundo uma antiga lenda contada pelo poeta grego Ovidio, Torino foi fundada por Phaethon ou Faetonte. Ele era filho do glorioso deus Hélius e da ninfa Climene, que prometeu jamais recusar um pedido de seu filho. Quando Faetonte cresceu ninguém acreditava que ele era filho do resplandente sol, por isso ele foi procurar por seu pai em seu luminoso palácio onde nunca chegava a noite. 

Faetonte pediu para estar no lugar de seu pai pelo menos por um dia, guiando seu carro de luz guiado pelos corceis. Helius não queria concordar, mas diante da promessa feita antes do nascimento de seu filho ele concordou, advertindo ao filho de que deveria ter muito cuidado tanto na subida do dia quanto na descida antes da noite. 

Porém Faetonte era jovem demais para entender toda a sabedoria das advertências.  Logo que a Aurora abriu as portas do leste, Faetonte partiu cheio de entusiasmo. Durante alguns momentos de puro êxtase, Faetonte sentiu-se o próprio senhor do firmamento. Subitamente algo se modificou e Faetonte perdeu o controle dos cavalos, que passaram muito perto das florestas incendiando o mundo, deixando Faetonte envolvido num calor infernal. 

Nesse momento a Mãe Terra lançou um grito que ecoou junto aos deuses. A salvação do mundo dependia de uma rápida ação e Zeus lançou um raio contra o imprudente condutor fulminando-o no mesmo instante. O misterioso rio Eridanus recebeu os restos mortais de Faetonte. 

Suas irmãs, as Helíades, vieram chorar sua morte e se transformaram em álamos junto às margens do rio Eridanus, que era o nome dado pelos gregos ao atual rio Pó. E cada lágrima delas, ao cair, cintilava em suas águas como reluzente gota de âmbar. As Náiades gravaram em seu túmulo: " Aqui jaz Faetonte. Grande foi sua ousadia e sua glória. De sua altura foram maiores os seus sonhos!... "





Lendas do Castelo de Rivoli

Todo castelo que se preze tem sua histórias, lendas e segredos.  E o Castelo de Rivoli não é diferente. Sabe-se que o castelo é muito antigo e que já existia no século 11, quando foi adquirido pela família Sabóia. Foi o primeiro lugar na Itália onde esteve o Santo Sudário, que foi trazido da França por uma hóspede da família Saboia.

Um dos moradores do castelo foi Amadeus VI de Saboia, chamado de Conde Verde devido à capa verde que usava. Ele foi morar no castelo em 1330 e a partir daí seus descendentes moraram no castelo por séculos. 

Um desses descendentes era o Duque Emanuele Filiberto I de Saboia que pretendia casar com a herdeira do trono da Inglaterra, porém devido a um acordo de paz ele foi obrigado a casar com Margherita de Francia em 1557.

Além de Margherita já ter 36 anos, considerado na época como uma idade tardia para casamento, ela era uma moça sem sorte. Sempre que combinavam o seu casamento acontecia algo que acabava cancelando as núpcias. 

Até que negociaram seu casamento com o duque e no dia marcado para as núpcias não foi diferente, pois seu irmão que era um rei sofreu um sério acidente. Temendo que o duque cancelasse o casamento e deixasse a princesa "solteirona", a família de Margherita tratou de apressar a cerimônia ainda que tivesse de realizá-la sem festas.






Uma preocupação do duque Emanuele Filiberto I era ter um filho que herdasse o trono, mas depois de 5 anos esperando que a esposa engravidasse o duque mandou buscar o astrólogo Nostradamus que morava em Torino. 

Nostradamus traçou o horóscopo e previu que a criança nasceria muito fraca, magra e sem vitalidade. Viveria um longo tempo mas morreria em Jerusalém quando "enfrentasse o 7", algo que ninguém soube decifrar.

Realmente a criança nasceu em 1562 e teve uma saúde frágil, tendo inclusive sido apelidada de "corcunda" devido aos seus ombros arqueados. A criança recebeu o nome de Carlo Emanuele I de Savoia e, quando seu pai morreu ele tornou-se Duque de Saboia e herdou o reino de Chipre e Jerusalém.  

Porém devido à profecia de Nostradamus ele evitava ir a Jerusalém. Apesar de sua prudência a profecia se tornou realidade. Carlo Emanuele I de Saboia morreu 1 ano antes de completar 70 anos, em um palácio que se situava na Via Jerusalém de uma pequena aldeia do Piemonte. Era o seu destino, do qual ele não conseguiu fugir!...





Outra história aconteceu no castelo um século depois. Depois da morte de seu pai Vittorio Amadeo II tornou-se duque, mas por ter apenas 9 anos sua ambiciosa mãe, Maria Jeane di Saboia, tornou-se a regente. 

Eles moravam no Palazzo Madama no centro de Torino e assim que ele completou 13 anos sua mãe tentou negociar seu casamento com a filha de Dom Pedro II, rei de Portugal. Para fugir da negociação, o esperto menino fingiu-se doente e o casamento foi cancelado. 

Ao atingir a maioridade Vittorio Amadeo II assumiu o ducado e, não aguentando as interferências de sua mãe, afastou-a do poder em 1684. Em seguida o jovem duque casou-se com a herdeira Anne Marie Orleans. Teve um filho que morreu vítima de varíola e logo depois perdeu a esposa. 

Devido às essas perdas Vittório Amadeo II tornou-se muito triste e austero. Passou a repudiar o luxo e o esplendor da corte, preferindo as coisas simples e prometeu punir qualquer ostentação de riqueza de seus súditos. 

E ainda que enfrentasse grandes guerras com os franceses, em 1706 ele casou-se novamente. Ao vencer a batalha, o duque deu um grande impulso a Torino mandando construir vários palácios, castelos e a Basílica de Superga. 

Entretanto, quando seu filho Carlo Emanuele III nasceu, o duque foi informado de que o menino não poderia ser o seu herdeiro porque não era o primogênito. Em 1730 o duque abdicou do trono para garantir o futuro de seu filho, mas aconselhou que ele evitasse grandes despesas e as pompas reais.

Apesar dos conselhos de seu pai, Carlo Emanuele III retomou as grandes festas e bailes na corte. Por não concordar com as atitudes do filho, Vittorio Amadeo II tentou retomar o poder. Porém foi preso por seu filho nas masmorras do Castelo de Rivoli onde enlouqueceu. Algum tempo depois ele faleceu e seus restos mortais jazem na Basílica de Superga que havia mandado construir. 


Continua no post: Piemonte Torino 9.2







Um comentário:

Agradeço por sua visita e seus comentários

Related Posts with Thumbnails

Seguidores

Related Posts with Thumbnails

Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.