13 janeiro 2017

Venezia 3 Sestiere San Marco





San Marco é o sestiere central,  o mais famoso e o mais cenográfico de Veneza. Centro da religiosidade e poder político no passado, explorar o bairro é certeza de descobrir sua grandiosidade. 

Sendo o sestiere mais antigo de Veneza, nele estão os principais monumentos históricos. Também é possível descobrir recantos agradáveis e muitas histórias interessantes.   

No coração da "Sereníssima" encontra-se a elegante Praça San Marco, que concentra a Basílica de San Marco, o Campanário, a Torre do relógio, o Museu histórico e Arqueológico Correr, a Biblioteca e o museu do Palazzo Ducale. 

Essa praça nasceu ao redor de duas igrejas. Uma delas era Igreja de San Geminiano, que foi destruída por Napoleão em 1807 para unir as duas procuradorias, que mais tarde seria chamada apenas de "Ala Napoleônica".





Museu Correr

Na Alla Napoleônica que funciona o Museu Correr, o Museu Arqueológico e a Biblioteca Marciana ou Sansoviniana. O museu conserva obras que ilustram a história e evolução de Veneza, como antigos mapas da cidade, representações da vida cotidiana, as grandes navegações, a dominação dos doges, além da rica pintura veneziana do período dos anos 1500.






Embora o museu trate da Civilização Veneziana, ficou conhecido como Museu Correr a partir de 1830 depois da morte de Teodoro Correr, um magnata descendente de uma das mais antigas famílias venezianas, que legou sua preciosa coleção de arte à cidade de Veneza.






A entrada é feita pelo suntuoso "Salão de Baile", que possui importantes esculturas de Antonio Canova, além de uma fina decoração, com tapeçarias, mobiliário, obras e objetos de época. No percurso do museu as salas neoclássicas relembram a hospedagem de Elizabeth de Baviera, a famosa Imperatriz Sissi, que esteve ali entre 1861/1862.






Recentemente restauradas, as salas representam toda a riqueza da sereníssima de outrora. Interessante é o acervo que conta a história do quotidiano da cidade em várias épocas do passado. 

Os enormes quadros representam os doges e senadores. Do Museu Correr também tem-se uma bela vista da praça, que permite um olhar diferente para a laguna.






O Museu Arqueológico faz parte do percurso integrado do Museu Correr e contém uma coleção preciosa de esculturas originais gregas dos séculos 5/6 a.C., além de obras romanas, cerâmicas e pedras preciosas. 

Um dos destaques é a coleção numismática com mais de 9000 moedas, além de uma coleção de sarcófagos, monumentos fúnebres romanos, urnas e altares. 

A relação de Veneza com o mar, sua posição privilegiada entre Oriente e Ocidente são ilustradas por instrumentos originais e quadros que mostram as batalhas épicas entre venezianos e turcos. 

Existe uma sala dedicada ao Arsenal, que à sua época era o maior canteiro naval do mundo. Antigas pinturas realizadas em pedaços de madeira retratam as artes e oficios da República Sereníssima.






O percurso dos museus termina nas salas monumentais da Biblioteca Marciana. A parte aberta à visitação é a antiga Livraria de San Marco. Com uma decoração suntuosa, a Biblioteca Marciana foi a primeira biblioteca pública de Veneza e uma das mais antigas da Itália. Nesse local está o maior acervo de manuscritos do mundo.






Considerando que Veneza foi um dos maiores polos mundiais de tipografia no período de 1500, o acervo é grandioso. Além de manuscritos gregos, latinos e orientais, existem salas decoradas por importantes artistas, como Tintoretto, Tiziano e Veronese. Depois de visitar os museus, nada melhor do que apreciar os "Giardinetti Reali" ou Jardins reais, que foram criados na época napoleônica.





Cafés da praça

Abaixo da biblioteca estão cafés históricos, como o Caffè La Vena, Gran Caffè Quadri e o Caffè Florian, que funciona na praça desde 1720. O Caffé Florian é uma das mais antigas cafeterias do mundo e está incluída entre as 10 cafeterias mais belas do mundo. Através dos tempos, outros cafés copiaram o costume de oferecer café e orquestra.

Ainda que os preços sejam altos, vale tomar um cafezinho na praça admirando a linda decoração interna ou ficar nas mesinhas do lado de fora aproveitando a orquestra. Com um requintado interior, as salas do Caffé Florian são decoradas com mobiliário antigo e diversos objetos de arte, já tendo servido personagens ilustres da história.





Basílica de San Marco

O grande destaque da praça é a belíssima Basílica de San Marco, um raro exemplo da arquitetura bizantina que é um dos símbolos de Veneza. Sua construção teve início em 826 quando o corpo de São Marcos vindo de Alexandria chegou à cidade. 







A basílica foi edificada sobre uma antiga capela dedicada a San Teodoro, que antes era o protetor da cidade e hoje ocupa uma das altas colunas da praça.





Segundo contam, a riqueza da igreja foi construída a partir de uma lei de 1075, que obrigava a todos os navios que retornavam a Veneza trazer um precioso presente para decorar a "Casa de San Marco".  






O conjunto dos Quatro Cavalos feitos em bronze e ouro datam de 400 anos a.C. Trazidos de Constantinopla em 1204, as peças originais permanecem dentro da Catedral. Os que aparecem na fachada são apenas réplicas.






Tendo a escultura de San Marco junto aos pináculos, segundo a tradição veneziana  São Marcos estava viajando pela Europa até que ao chegar de frente à lagoa em Veneza lhe apareceu um anjo que disse: "Pax tibi Marce, evangelista meus. Hic requiescet corpus tuum" ("Que a paz seja contigo, Marcos, meu evangelista. Aqui descansará o teu corpo").

Alguns afirmam que essa justificativa foi usada por Rustico da Torcello e Bon da Malamocco em 828, para roubar os restos mortais de São Marcos do seu túmulo em Alexandria e levá-los para Veneza. Dizem que os mercadores só conseguiram roubar os restos mortais de San Marco porque cobriram a carga com carne de porco.

Por haver um certo desprezo bem conhecido dos muçulmanos por esse alimento, eles puderam passar pela alfândega sem inspeção. Ao chegar em Veneza, as relíquias de San Marco foram recebidas com grande alegria, pois além de trazer o patrono da cidade, também iria atrair os peregrinos de toda a Europa para Veneza.






Símbolo da grandeza e riqueza da República de Venezia, todo o interior da basílica é revestido de mosaicos sobre pintura a ouro que traduzem o poder que deteve no passado. 






Em seu estilo predomina o greco bizantino com alguns detalhes árabes e germânicos. Construída ao longo de 100 anos, foram necessários mais de 600 anos para finalizar a sua decoração.






As 14 figuras que compõem sobre o arco são os 12 apóstolos de Cristo, a Virgem Maria e o profeta San Marco. 





As estátuas são do final do século e foram esculpidas pelos irmãos venezianos Pierpaolo e Jacobello delle Massegne. As lindas lamparinas bizantinas trazidas do Oriente enfeitam a nave da Basílica.





Pala D'Oro

Como o comércio entre oriente e o ocidente era realizado por Veneza, muitos elementos da igreja foram trazidos da antiga Constantinopla. O grande destaque no interior da igreja é a Pala d’Oro cravejada de pedras preciosas, um trabalho minucioso que impressiona pela perfeição. 






Criada em 978, ela é considerada um dos Tesouros di San Marco. Outras riquezas são os vasos e anforas de Ágata, cálices e relicários com gemas incrustadas, cristais e outros belos objetos de grande valor histórico que encontram-se no museu da catedral.  






O tesouro de San Marco reúne 283 peças de ouro, prata e outros materiais, muitos deles trazidos da antiga Constantinopla durante as cruzadas venezianas.





Piazzetta dei Leoncini

A área delimitada ao lado da basílica é chamada Piazzetta dei Leoncini, onde se destacam as duas esculturas de leões feitas em 1722 em mármore vermelho. Não é raro encontrar turistas idiotas que montam sobre o monumento dos leões, esquecendo que as peças são um legado para a história da humanidade. 

Ao fundo da pequena praça encontra-se o Palazzo Patriarcale e ao lado a pequena Igreja de San Basso. Construída originalmente em 1076, essa igreja foi reconstruída várias vezes devido a incêndios. Porém a parte final nunca foi concluída. Fechada durante a ocupação napoleônica, depois passou a ser utilizada como loja de antiguidade e local para guardar obras de arte.





ex-Igreja de San Basso / Sala Vivaldi

Desde 1951 a Igreja de San Basso tem sido a sede de exposições e concertos de Vivaldi, um dos grandes compositores e músicos de Veneza. Em sua época Vivaldi foi admitido na orquestra da Basilica, onde se tornou o maior violinista de seu tempo. 

Tornou-se um padre e se dedicou ao ensino de violino. Era capaz de compor música não-acadêmica, que era apreciada pelo público geral. A alegre aparência dos seus trabalhos revela uma alegria de compor, como "As quatro estações", uma de suas 770 obras. 

Sendo admirado por Carlos VI, logo ele assumiu a posição de compositor real na Corte Imperial. Porém depois de pouco tempo o monarca veio a falecer, deixando Vivaldi sem proteção real. Assim como muitos outros compositores da época, apesar de seu talento Vivaldi terminou sua vida em pobreza. Faleceu em 28 de julho de 1741 e foi enterrado numa sepultura anônima...





Colunas da Piazza San Marco

Duas colunas marcam a entrada da praça, tendo uma delas a imagem de San Teodoro que foi o primeiro padroeiro da cidade até a chegada das relíquias de Marcos. Na outra coluna encontra-se o famoso leão alado de Veneza. 

Aliás, por todo lado sempre é possível achar um leão. De acordo com a fé cristã, o evangelista São Marcos está associado à figura do Leão alado que pode ser encontrada em diversas cidades do Veneto. 

A representação de São Marcos como o Leão Alado é derivada das profecias contidas no verso do livro do Apocalipse 4:7 que diz: "O primeiro animal era semelhante a um leão. 

O segundo semelhante a um bezerro. O terceiro animal o rosto como de homem e o quarto era semelhante a uma águia voando." Os escritores dos quatro Evangelhos foram representados por símbolos alados e suas cabeças envoltas numa auréola, a partir de uma visão anterior do Profeta Ezequiel 1.5-25. O homem seria Mateus, o touro Lucas, a águia o amado João e Marcos o leão alado.





Leão alado

O leão alado sempre aparece ao lado de um livro, que representa o evangelho de Marcos. Curiososamente, algumas vezes pode-se encontrar o leão junto de um livro fechado. Segundo dizem, o livro encontrado aberto indica que o leão foi esculpido em tempos e paz. Se o livro estiver fechado, indica que a escultura foi feita em tempos de guerra.

Consta que na Piazza San Marco já esteve um leão vivo, que se tornou famoso por ter sido retratado numa tela de Pietro Longhi em seu quadro “Il casotto del leone”. Também famoso é o leão do "Campanille de San Aponal" que surge da água, representando a supremacia de Veneza sobre o mar europeu.

De acordo com a literatura antiga, certa vez um leão verdadeiro de carne de osso foi mantido no Palazzo Ducale e também em alguns palácios privados. Em 1316 uma leonessa trouxe grande alegria aos venezianos por ter tido filhotes no Palazzo Ducale, algo que foi considerado muito auspicioso para a sorte da República.





San Marco / patrono de Veneza

Considerado o patrono da cidade, a festa dedicada a San Marco é realizada em 25 de abril, data que casualmente coincide com a celebração da libertação da Itália do fascismo. A cada ano são realizadas celebrações na Piazza San Marco com a presença de autoridades religiosas, civis e representantes das artes. 

Essas celebrações se repetem também em 31 de janeiro, dia em que San Marco foi trazido para Veneza e 25 de junho, dia da descoberta de suas relíquias na Basílica de São Marcos. E também em 25 de abril celebra-se a "Festa da Bocolo", uma tradição que sugere dar um botão de rosa para a mulher amada. 

Dizem que o costume vem de uma lenda que envolve uma moça, a filha do Doge que se apaixonou pelo jovem Tancredi. Porém o amor impossível levou Tancredi para a guerra onde ele morreu junto de uma roseira. No dia seguinte, durante a festa de San Marco, ela foi encontrada morta com a flor sangrenta sobre o seu coração. Desde então, a rosa se tornou um símbolo de amor eterno.  





Campanário de San Marco

Outro fabuloso símbolo da cidade é Campanário de San Marco, que é o ponto mais alto de Veneza. No portão de entrada do campanário estão esculturas feitas de bronze ladeadas por dois leões alados. 

Na base do campanário pode-se distinguir quatro nichos que contém a figura de Atena, de Apollo, Mercurio e a quarta da Paz. Cada uma das figuras tem o seu próprio simbolismo.






Tendo quase 100 metros de altura, através de um elevador é possível subir até o topo, de onde se tem uma bela vista panorâmica de Veneza. Construído pela primeira vez entre os séculos 09/12, foi nesse campanário que Galileu testou seu telescópio em 1609. Também nessa torre eram colocados os prisioneiros dependurados em gaiolas durante a Idade Média.






Tendo sofrido danos causados por um raio, o campanário passou por diversas restaurações. Porém em 1902 a torre original entrou em colapso, tendo sido reconstruída e inaugurada em 1912. Nas faces acima estão o Leão de San Marco e a representação da Justiça.






Na ponta da torre há uma imagem dourada do Arcanjo Gabriel, que segundo a tradição é o mensageiro das boas notícias. Observe o arcanjo. Diz um ditado local, que quando ele se volta para o nordeste e fica de frente para a Basílica di San Marco, sinaliza uma mudança de ventos e a chuva chegando...





Palazzo Ducale

Outro lindo monumento da Praça San Marco e símbolo da cidade é o Palazzo Ducale. Conhecido por servir de residência para o doge e sua família, ficou conhecido como Palácio dos Doges. 

Sua construção teve início no século 9, tendo se tornado num elegante palácio no século 13. Nele foram reunidos uma combinação de estilo, que juntou a arquitetura bizantina, gótica e renascentista. Passou por várias modificações até adquirir a aparência atual a partir do século 17.

A fachada concluída em 1443 tem um detalhe interessante, mas que pode passar desapercebido pelos olhares menos atentos. No andar superior existem duas colunas que possuem cor diferente das demais. 

Narra uma lenda que desse ponto eram anunciadas as sentenças de condenação dos prisioneiros. Por isso esse local era considerado nefasto, porque poderia atrair azar a quem dele se aproximasse.







Foram os irmãos Giovanni Bon e Bartolomeo Bon que criaram a monumental entrada do palácio em estilo gótico. Foi chamada de Porta della Carta, porque era nessa porta que afixavam as novas leis e decretos. 

Composto pelas figuras das Virtudes Cardinais, o busto de São Marcos Evangelista tem acima a figura da Justiça com a espada e a balança. O Doge ajoelhado reverencia o Leão de São Marcos.






A grande porta dá acesso ao pátio central, onde eram realizadas as cerimônias de coroação dogal, os torneios e algumas punições. 






Rodeado por alas, um dos lados é unido à lateral da Basílica de São Marcos, que é a antiga Capela Palatina. 






Tem destaque a monumental Scala dei Giganti ou Escadaria dos Gigantes.  Decorada com as imagens de Marte e Netuno, as colossais esculturas representam o poder e o domínio sobre a terra firme e sobre o mar.






O maravilhoso museu do Palazzo Ducale é ideal para quem ama arte e história. O acesso ao piso superior é feito pela Scala d'Oro ou Escada de Ouro, onde encontram-se as ricas salas ocupadas pelos governantes da Serenissima Repubblica. 






Depois de dois incêndios em 1574 e 1577, Ticiano e Paolo Veronese foram chamados para decorar o interior do palácio. O interior tem uma elegante decoração e pinturas de Ticiano, Tintoretto e Bellini.






A sala dell’Anticollegio era uma espécie de sala de espera de conselheiros e embaixadores que seriam recebidos pelo doge na sala del Collegio, cujo teto foi pintado por Veronese. 

Nas salas seguintes ocorriam as grandes reuniões, onde eram tomadas as mais importantes decisões. Ao lado está a Sala della Bussola, onde permaneciam aqueles que seriam  interrogados.






A maior das salas, com capacidade para acolher centenas de pessoas, é a do Grande Conselho onde eram eleitos não apenas o doge, mas também os principais funcionários administrativos. 

É nela que se encontram os retratos dos diversos dogi que governaram a república e a gigantesca tela de Tintoretto, o Paradiso, datada do fim do século 16 e tida como a maior pintura a óleo executada até hoje.





Doges de Veneza

Os Doges que comandaram a cidade entre 697 e 1797 pertenceram ao primeiro magistrado supremo eleito nas antigas repúblicas de Gênova e Veneza. Naquela época existia no Palazzo Ducale um tal Livro de Ouro, que continha o elenco das famílias nobres e importantes e que poderiam concorrer ao posto de Doge.

Bem diferente dos costumes atuais, quando os doges assumiam o cargo eles deviam jurar fidelidade e honestidade à República, sendo proibido fazer do cargo trampolim para adquirir poder pessoal ou para enriquecimento particular. 

Os doges não tinham o direito de se considerar senhores de Veneza, pois eram apenas servos honorários da república e deviam se submeter às mesmas leis vigentes como qualquer outro cidadão comum.






Na época da Sereníssima República a justiça em Veneza era exercida de modo exemplar e alcançava até seu líder máximo, algo que se transformou em um dos seus grandes mitos. 

Graças à inexorabilidade e a eficácia dos órgãos da justiça veneta, a criminalidade foi contida. Aos acusados era dada oportunidade de defesa e usava o mesmo rigor no caso em que eles pertencessem à classe dirigente.

Esperava-se que os Doges fossem responsáveis e administrassem com honestidade. Aqueles que não agiam corretamente eram executados. Um deles foi o Doge Marino Falier, que articulou um plano para impor um poder absoluto em Veneza contra o Governo Colegiado vigente. Julgado, foi condenado por alta traição e decapitado no pátio do Palazzo Ducale.






No século 10 Veneza já era uma força comercial que se espalhara pelo Mediterrâneo, conquistando territórios que se estenderam até a Grécia. Graças à sua localização privilegiada no meio da rota entre o Oriente e o Ocidente, a cidade se tornou um próspero centro mercantil e naval a partir do século 11. 

Essa condição só foi abalada quando os portugueses descobriram uma rota alternativa para o Oriente, circundando a África. Em 1797 a força militar de Veneza esteve abalada, fato que propiciou a conquista da cidade por Napoleão Bonaparte determinando a extinção do cargo de Doge. 

Depois da queda da República de Veneza, o palácio não foi mais utilizado como sede do príncipe e da magistratura. Em seguida Veneza passou a integrar o território austríaco tendo sido incorporada à Itália em 1866. Com a anexação de Veneza ao Reino de Itália, o palácio foi submetido a diversas restaurações e em 1923 foi destinado para o museu.





Bocca della Verità

Veneza era dominada por um processo político extremo, que incentivava os moradores para  acusar e delatar crimes de forma anônima, bastando colocar a denúncia na "Bocca della Verità" ou "Boca da Verdade".

No período de quase 500 anos, compreendido entre os anos de 1300 e 1797, pelo menos 1279 pessoas foram condenadas à morte, resultando em duas execuções por ano. Até meados do século 18, as execuções geralmente ocorriam entre as duas colunas da praça San Marco, motivo pelo qual venezianos supersticiosos nunca passam entre as duas colunas.





Ponte dos Suspiros

Além da pena de morte existiam outras punições, como o exílio que expulsava o condenado e proibia seu retorno aos domínios da República de Veneza. Alguns condenados eram submetidos a trabalhos forçados, sendo embarcados nas galeras como remadores. Esses eram chamados de "Galeotto". 

Outros condenados permaneciam nas prisões do Palazzo Ducale, que eram chamadas "Piombi" por terem o teto revestido com placas de chumbo. No início do século 17 foram criadas as Prigioni Nuove ou Prisões Novas, onde eram mantidos os magistrados encarregados de reprimir crimes penais. 

Foi nessa época que surgiu a Ponte dei Sospiri ou Ponte dos Suspiros, um percurso por onde passavam os condenados. Por ser a última vez que poderiam ver o mundo externo e suspirar, daí surgiu o nome da ponte.





Torre do relógio

Uma das curiosidades da praça é a Torre dos Mouros ou Torre do relógio. Erguida sobre um arco que dá acesso à principal rua de Veneza, a torre de cinco pisos foi construída entre 1496 e 1499, bem de frente para a laguna, para que todos pudessem admirar a riqueza e glória da República. Também era a última visão para os criminosos enforcados nas colunas da Piazzeta San Marco.






Seu grande relógio astronômico, obra-prima da técnica e da engenharia do final do século 15, regula há mais de 500 anos a vida, a história, e a passagem do tempo em Veneza. 

O engenhoso relógio mostra o dia, as horas, as estações do ano, as fases da Lua e os cinco planetas mais conhecidos: Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio. O quadrante do relógio em mármore, esmalte e ouro, tem as 24 horas do dia em algarismos romanos.

As horas são indicadas por um ponteiro dourado enfeitado por uma imagem do sol. Os signos do zodíaco giram mais lentamente que o ponteiro para mostrar a posição do sol no zodíaco. 

No centro do mostrador esmaltado em azul ficam a terra e a lua que gira para mostrar suas fases, cercadas por estrelas sempre na mesma posição. Conta a lenda que os artífices desta obra ficaram cegos para que não pudessem repeti-la em nenhum outro lugar.






Acima está o leão alado de Veneza sobre fundo azul veneziano, salpicado de estrelas em ouro, com o Livro de São Marcos Evangelista aberto diante dele. No andar de baixo, a imagem do Anjo Gabriel seguido dos Reis Magos saem e entram em procissão duas vezes ao ano: no Dia de Reis em 06 de janeiro e no Dia da Ascensão, para reverenciar a Madonna com o Menino Jesus, cuja imagem fica num pequeno balcão semicircular.

A estrutura da Torre do Relógio tem muito a dizer sobre a própria estrutura da sociedade veneziana. Acima da Madonna, está posicionado o leão, símbolo da República de Veneza, demonstrando o sistema hierárquico que situava a política acima da religião.  Acima de todos os elementos, Veneza se reverencia ao poder supremo, o poder do tempo.






No alto do terraço está um grande sino. Embora a torre tenha sido restaurada através dos tempos, o sino é o original de 1497. Junto a ele há duas grandes estátuas em bronze de 2.60 metros de altura, que tocam o sino com um martelo. Nomeados em 1494 por seu escultor como pastores, visto apresentarem a pele de carneiro que cobre sua nudez, na verdade eles ficaram conhecidos como "i mori" ou "os mouros".

Dizem que essas esculturas representam os escravos mouros aprisionados durante as guerras, que trabalhavam dia após dia; hora após hora. Um com barba e aparência mais velha bate o sino um dois minutos antes da hora certa, representando o tempo que passou. O outro com aparência jovem bate o sino dois minutos depois, representando o tempo que virá...



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Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.