22 dezembro 2011

Palermo, a jóia do mediterrâneo



Palermo é uma das cinco maiores cidades da Itália e o principal centro cultural, histórico e econômico da Sicília. Rica em sua história e cultura, muitos turistas são atraídos pelo seu ar mediterrâneo e sua famosa culinária. Disputada no passado por fenícios, árabes, normandos e espanhóis, a influência de todos desses povos são notáveis nos hábitos, na arquitetura e na culinária siciliana.

Com mais de 2700 anos de existência, a cidade foi fundada pelos fenícios e chamada pelos antigos gregos como Panormus. Foi parte da República Romana, do Império Romano e do Império Bizantino por mais de 1.000 anos. Esteve sob domínio árabe durante 200 anos. Tornou-se capital do reino da Sicilia e uniu-se ao reino de Nápoles para formar as duas sicilias até a unificação da Itália.







Os sicilianos são expansivos e se expressam de forma enfática, mostrando um forte sangue latino nas veias. Nas estreitissimas ruas antigas da cidade carros, lambretas, motos e pedestres disputam um espaço. Com muitos grafites nas paredes, os prédios antigos entram em contraste com as roupas secando no varal improvisado nas varandas dos apartamentos. Tudo isso faz parte da originalidade do povo siciliano: alegres, festeiros e muito religiosos.

Cidade de grande expressão religiosa, Santa Rosália, chamada de La Santuzza, é a padroeira de Palermo. Dizem que Santa Rosália pertencia a uma nobre família mas decidiu retirar-se para viver solitária no Monte Pellegrino onde morreu sozinha em 1166.

Segundo contam, quando Palermo foi atacada por uma terrível peste nos anos de 1600, Santa Rosalia teria aparecido para uma pessoa doente e teria dito que seus ossos que estavam numa caverna poderia salvar a cidade. Um caçador trouxe os restos mortais da Santa Rosália e imediatamente a peste cessou na cidade. Em vista disso, a cidade lhe rende homenagens sempre em 15 de julho.







Palermo tem uma das mais lindas igrejas da Itália. A Catedral de Palermo é um complexo arquitetônico caracterizado pelos diferentes estilos devido a um longo histórico de modificações e restaurações. Um pequeno furo em uma das cúpulas menores funciona como câmera Pinhole projetando a imagem do sol no chão ao meio-dia. Há uma linha no chão perorrendo precisamente de norte a sul.

As extremidades da linha marcam os solstícios de verão e inverno. Os signos do zodíaco mostram as datas ao longo do ano. A finalidade do instrumento foi para padronizar a medição do tempo e do calendário. A convenção na Sicília teria sido que o dia de 24 horas seria medido a partir do momento do nascer do sol. Também determinava quando ocorria o Equinócio Vernal e assim marcar a data correta para a Páscoa.







Palermo tem inúmeras igrejas, entre elas a Martorana construída sob a forma de um compacto quadrado, que foi sendo ampliada em diferentes épocas. As Igrejas de San Cataldo e Santa Maria dell'Ammiraglio, fazem parte da Piazza Bellini. A Igreja di San Giovanni degli Eremiti é notável por suas brilhantes cúpulas vermelhas que mostram claramente a persistência de influências árabes na Sicília. Desde sua reconstrução no século 12, foi enriquecida por um luxuoso jardim, sendo a parte mais preservada do antigo mosteiro. A Igreja de San Giuseppe, próxima ao Quattro Canti, é um dos exemplos do barroco siciliano e muitas outras.





Quattro Canti é uma pequena praça no cruzamento das principais vias antigas dividindo a cidade em seus bairros. Os edifícios no canto diagonal tem fachadas barrocas que torna o formato da praça quase octagonal. Cada canto tem uma fonte com estátuas das quatro estações, os quatro reis espanhóis da Sicília e das padroeiras de Palermo: Cristina, Ninfa, Olivia e Ágata. Foi um dos primeiros centros urbanos na Europa.

Cidade cheia de vida e de variedades, a proximidade da Sicília com a África trouxe muito para sua cultura. Isso fica evidente quando se vê muitas mulheres usando um tradicional vestido africano além da influência árabe muito presente na culinária e na cultura. Mas Palermo não perdeu seu modo italiano, onde o catolicismo e a hora da sesta são levadas a sério.









O descontraído estilo de vida do mediterâneo é algo fascinante. Com suas praias banhadas pelo mar Tirreno, cada praia de Palermo é diferente e tem um encanto especial. Algumas tem bares e restaurantes especialidades em mariscos, outras são semi isoladas.

De paisagem variada e colorida, Mondello é a praia mais importante. Perto da cidade, do Monte Pellegrino a 600 m de altura tem-se um belo panorama da cidade, suas montanhas e o mar. As cavernas nos penhascos do Monte Pellegrino foram habitadas em tempos neolíticos e possuem alguns desenhos nas paredes. No entanto, a história de Palermo só foi registrada 4.000 anos mais tarde.





Piazza Marina e seus arredores é uma das partes mais interessantes de Palermo. A área é conhecida como La Kalsa e era originalmente um bairro árabe. É o lugar de inúmeros palácios aristocráticos, igrejas e praças.

O Palazzo Steri, também conhecido como Palazzo Chiaramonte, é uma típica fortaleza muito comum entre as poderosas famílias medievais. Construído em 1307, além de ter testemunhado muitas lutas entre famílias locais e os soberanos, a Piazza Marina presenciou a execução de muitas pessoas durante a Inquisição que criou raízes em Palermo.









O Palazzo dei Normanni, um dos mais belos palácios italianos, provavelmente foi construído sobre uma fortaleza árabe onde está a famosa Capela Palatina. Uma galeria de arte funciona no Palazzo Abbatellis e a Piazza Magione, onde hoje é um parque gramado com árvores, foi uma área fortemente bombardeada durante a 2ª Guerra Mundial e seus prédios demolidos.

No Palazzo Ziza, do árabe Al-Azizah que significa o esplêndido, faz juz a seu nome. O interior do Zisa é muito mais que um ambiente finamente decorado e se assemelha ao palácio de um sultão onde hoje funciona o Museu islâmico. No século 12 o Ziza era o principal palácio de um parque real que incluia o Cuba e o Cubola.

O parque que se estende 1 km do Ziza ao Cuba era uma área aberta fora dos portões da cidade. Conhecido no passado como Paraiso terrestre, o parque foi iniciado em 1166 pelo rei William I que morreu sem conhecer o parque. Nesse parue havia muitos animais silvestres e era onde Bocaccio se inspirava. Viveiros com pássaros exóticos ficavam espalhados entre os jardins.

Riachos artificiais separavam as atrações em pequenas ilhas ligadas por pequenas pontes para que o rei e seus convidados não molhassem os pés enquanto passeavam. Até 1575 permaneceu intacto e era para onde as pessoas se refugiavam para respirar ar puro e fugir da peste que assolava a cidade.

O Palazzo Cuba é uma versão menos elaborada do Ziza. Cuba deriva do árabe Caaba referindo-se a uma estrutura de cubo ou quadrada. Foi construído em 1180 pelo rei William II para servir como uma espécie de palácio de verão e edifício principal dos jardins reais. O prédio não tem telhado e estudiosos acreditam que talvez tenha sido construído sem telhado para melhorar a ventilação. Esses magnificos castelos serviam de residência aos reis de Palermo.



Em Palermo há um tenebroso Museu da morte. As Catacumbas dos Capuchinhos de Palermo tem um dos museus mais originais do mundo onde estão guardados os restos mortais de 8.000 mortos, a maioria da elite de Palermo, do clero, da nobreza e outros. As catacumbas existem desde 1599 quando foi enterrado um monge com reputação de santo para ser orado e visitado, o irmão Silvestro de Gubbio. Com o crescimento, foi necessário ampliar sendo adpatado com um tipo de cripta sob a igreja do mosteiro.

Tendo se tornado uma tradição local, muitos deixavam instruções no seu testamento como gostariam de ser sepultados. As catacumbas dos Capuchos foi oficialmente fechada para sepultamentos em 1882 e somente pedidos excepcionais foram autorizados. No século 17 descobriu-se que a singularidade do solo e da atmosfera das catacumbas dos capuchos evitavam a decomposição dos corpos.

A parte mais famosa e emocionante das Catacumbas é a Capela de Santa Rosália. No centro da capela, em um caixão de vidro, está o corpo de Rosalia Lombardo que morreu aos 2 anos de pneumonia. Um reconhecido embalsador conseguiu uma fórmula que manteve em segredo e o corpo de Rosália foi mantido intacto. Recentemente uma equipe de especialistas teve acesso ao corpo e usando métodos científicos conseguiu determinar a formulação desenvolvida pelo médico Alfredo Salafia. A grande diferença dos métodos tradicionais é que ele adicionou aspirina.









O Teatro Massimo na Piazza Giuseppe Verdi marca a fronteira entre o centro da cidade velha e a parte moderna e comercial de Palermo. Fechado por mais de 25 anos aguardando restauração, nesse teatro já se apresentaram grandes nomes da música, como Pavarotti e Maria Calas. É o maior teatro da Itália e o terceiro maior da Europa.

A Piazza Ruggero Settimo com Piazza Castelnuovo é a praça mais importante em Palermo. As duas praças são chamadas de Praça Politeama em virtude do Teatro Politeama que faz parte da praça. Famosa também é a Praça Pretória, chamada de Praça da Vergonha, que foi construída em 1555. Composta de várias estátuas de ninfas nuas, sereias e sátiros, naquela época foi motivo de vergonha devido à nudez exposta nas estátuas.





Todos os anos durante o Festival Anual da Morgana - o festival internacional de Marionetas de Palermo - sicilianos e visitantes celebram uma arte tradicional que faz parte da cultura local com carrinhos pintados ou cannolli - o Opra dei Pupi - Teatro de Bonecos. Há muitos espectáculos de marionetas em torno de Palermo além do Museu de Marionetas. Leia mais sobre a Opra dei Pupi neste blog - click aqui.

Há muitos lugares para visitar em Palermo sendo impossível esgotar as opções. A cidade é toda monumental mas uma maneira de conhecer realmente a cidade é indo ao mercado da Piazza Ballarò, o mais antigo mercado dos mercados árabes de Palermo. Para os sicilianos cozinhar é uma arte e as raízes árabes do mercado ainda são evidentes. Palermo foi no passado uma das cidades mais esplêndidas do mundo muçulmano, superada apenas por Bagdá.



As especialidades culinárias da Sicilia levam a uma viagem no tempo e pela cultura de épocas passadas. É uma referência às influências de muitos povos, recebidas desde a pré-história. Gregos, normandos, bizantinos, árabes, romanos, todos deixaram uma contribuição e ajudaram a compor o jeito de viver dos sicilianos que, no geral, são muito ligados à família, adoram sol e comida.

Canela, noz-moscada, frutas cítricas, açafão, pimenta, damascos, tomate, muitos pescados e bons vinhos compõem uma parte da culinária siciliana. Palermo é a terra do famoso vinho doce Marsala, que já foi o vinho mais famoso da ilha. Feito com uvas brancas muito maduras e envelhecido em armazéns no porto de Marsala, tem uma intensa cor rubi. A pequena e rochosa ilha de Pantelleria, também chamada de ilha dos ventos, produz o conceituado Passito, um moscato típico feito com uvas Zibebo.





Tradicionalmente vendido pelos ambulantes apenas em Palermo, o Sfincione é tipo uma pizza mais alta e fofa, com molho de tomates, cebola e queijo tipicamente siciliano, o Caciocavallo. Outras iguarias famosas de Palermo são Caponata - um antipasto local feito de berinjela e outros ingredientes, o Aracine - um bolinho de arroz, o pane ca milza - um pão recheado com miúdos de vitela, além dos Panelle e Crocchè, dois tipos de pasteis para comer com pão e limão, algo muito comum em Palermo.

Outras delícias são a Cassata, o canollo - um tubo de massa frita com recheio doce e os lindos marzipãs, um doce de origem árabe preparado com amêndoas moídas, açúcar, clara de ovos que podem ser moldado em qualquer formato. Local de uma culinária muito genuína, muitos restaurantes pertencem às famílias que convertem o térreo de sua casas em uma loja ou bar. Quase sempre dirigida pelos avós e netos, há um jeito muito simpático de receber seus clientes.

A história de Palermo é uma das três maiores e mais antigas da Itália, junto com Roma e Nápoles. Viver na cidade parece um desafio embora os Palermitanos já estejam habituados com o racionamento de água potável que é fornecida apenas algumas horas do dia ou a cada 2 dias. A qualidade do ar registra níveis de poluentes maior do que qualquer grande cidade italiana apesar dos protestos da população. Algumas vezes o trânsito se torna caótico mas, apesar das inconveniências, Palermo continua a ser uma jóia do Mediterrâneo.







4 comentários:

  1. Olá Lucia!

    Parabéns pelo seu site!

    Parabéns pela disposição em postar tanta informação interessante!!!

    Muito sucesso pra vocÊ!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado por sua visita e seu comentário. Abraço. Lucia

    ResponderExcluir
  3. Oi Lúcia, já morei em Palermo e seu post me deixou morrendo de saudades....abraços!

    já seguindo seu excelente blog

    ResponderExcluir

Agradeço por sua visita e seus comentários

Related Posts with Thumbnails

Seguidores

Related Posts with Thumbnails

Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.