29 outubro 2019

Napoli 13 Insólitas atrações de Napoli






Napoli é uma cidade cheia de magia, esoterismo e mistérios. No entanto, esses segredos não estão escondidos em lugares distantes e inacessíveis; eles são uma parte integrante da cidade. 

Facilmente descobertos por aqueles que tem um olho treinado para ver detalhes, explorar alguns desses lugares significa encontrar os segredos fascinantes, surpreendentes e estranhos da cidade. 

Em Napoli o purgatório é um espaço físico. Andando pelas ruelas não é incomum se deparar com pequenas cavernas das almas do purgatório. É preciso procurar cuidadosamente para conseguir ver as escavações nas paredes de tufo ou altares microscópicos. 

As almas do Purgatório são feitas como figurinhas de barro, com metade do dorso envolto em chamas purificantes. As almas são representadas com alguns detalhes que dizem sobre o ofício ou o trabalho que tinham em vida.





"Capuzzella"

Na idade média, além do inferno e do paraíso, o purgatório surgiu como um lugar de remissão de pecados. Para os napolitanos não foi difícil assimilar essa nova verdade. Diz a tradição que os fiéis deviam escolher uma "capuzzella" ou crânio para cuidar, colocando-o em um lenço branco, talvez acrescentando em torno de um rosário.

Andando ao longo da Via Benedeto Croce é impossível não notar a presença de crânios e fêmures em bronze. Ao ser salva, a alma retribuiria a benevolência cumprindo as demandas daqueles que a ajudaram. 

Ainda hoje as pessoas fazem pedidos para resolver pequenos problemas da vida diária, mas também para ganhar na loteria. Se nada acontecer, a capuzzella é levada de volta ao ossuário, onde se adota outra capuzzella...





Igreja del Purgatorio ad Arco

Quem quiser ter uma visão mais profunda da cultura napolitana, não pode deixar de conhecer os lugares de muitos mistérios e lendas de Napoli. Um desses lugares é a Igreja Santa Maria delle Anime Purgatorio ad Arco, um lugar onde o sagrado e profano se unem e onde é possível conhecer um pouco da ligação dos napolitanos com o culto das almas do purgatório. 

Situada na Via dei Tribunali, essa igreja é um dos símbolos da “Napoli nascosta”. Construída em 1616 por um grupo de nobres que anos antes tinham fundado a Congregação de Purgatório ad Arco, a instituição foi criada para ajudar os pobres, doentes e mulheres em dificuldades econômicas e sociais.






A adição do termo “ad Arco” ao nome da igreja indica que ela foi construída perto de uma torre medieval com um grande arco, que foi demolido no início do século 16. 

Em 1980 um terremoto levou ao fechamento da igreja e seu cemitério subterrâneo. Após um grande trabalho de restauração, a igreja foi reaberta em 1992.

A congregação tinha o objetivo de realizar missas diárias para as almas do purgatório. Na parte esquerda do altar está o monumento fúnebre de um dos criadores da igreja, Giulio Mastrillo. 

Diz uma lenda Giulio decidiu construir o complexo do Purgatório depois de ter sido atacado por bandidos, mas salvo por um grupo de almas por ele invocadas naquele momento.






Algo que pode parecer bizarro para muitas pessoas, é o fato de haver junto com as decorações tradicionais crânios humanos e elementos que simbolizam a fugacidade da vida e a chegada a qualquer momento da morte.

No portão de entrada da igreja há dois crânios e dois ossos de bronze cruzados, uma espécie de marca registrada que é repetida na esplêndida fachada barroca e que nos dá a ideia de que algo sinistro e macabro nos espera lá dentro. É justamente esse ar macabro da Igreja do Purgatorio ad Arco de Nápoles que a transformou em uma espécie de atração turística.

Na igreja são realizadas normalmente missas, como em qualquer outro templo católico, mas a parte subterrânea é o lugar que chama mais a atenção. Lá encontram-se túmulos cavados no chão, bem como umas espécies de nichos de madeira com ossos e muitos ex-votos, flores, velas, objetos que testemunham o culto dos defuntos, ao qual os napolitanos ainda hoje estão muito ligados.





Culto delle Anime Pezzentelle

Napoli sempre teve uma relação muito peculiar com a morte e quando a gente visita a cidade dá para notar isso simplesmente observando alguns detalhes nas igrejas e até mesmo nas ruas, como os pequenos altares decorado com um crânio. E se você observar bem, em pequenos buracos nas paredes vai encontrar um crânio pequeno escondido lá no fundo. 

Eu acredito que a cidade tenha se deparado tantas vezes com a morte, seja através de guerras, terremotos, erupções vulcânicas e pestes, que acabou aceitando-a como parte da vida. 

O culto do Purgatório se difundiu em Napoli no início do século 17, por ocasião da Contrarreforma da Igreja Católica que propôs como uma das principais práticas religiosas, estabelecer através dos votos uma ligação litúrgica entre os vivos e os mortos.






Antigamente o hipogeu da igreja era considerado um lugar privilegiado, destinado à comunicação com as almas do purgatório. Apesar desse culto aos mortos nunca ter sido  aceito ou reconhecido pela Igreja Católica, não impediu que a população continuasse a pedir graças às almas.

Para alguns napolitanos, as almas dos mortos influem poderosamente sobre os vivos e são vistas como entidades espirituais do bem, que devem ser honradas, respeitadas e às quais se deve recorrer para obter verdadeiras graças.

Os ossos, mais especificamente o crânio, representam o meio material para estabelecer um contato com o espírito. A alma Pezzentella é aquela a qual se pede uma graça. 

Não é de um parente ou de um amigo falecido, mas uma alma anônima ou abandonada, que é adotada. Por isso as pessoas cuidavam dos nichos, pintando, decorando e colocando azulejos.






Entre todos túmulos e ossos, destaca-se em particular um crânio coberto por um véu de noiva, colocado sobre uma almofada branca e ao qual foi atribuído o nome de Lucia. Ao redor do crânio foi criado praticamente um altar, lugar que nos faz entender o quanto os napolitanos estão ligados a essa tradição de devoção aos mortos.






Muitas pessoas vão ao nicho/altar de Lucia pedir a cura de uma doença ou de um coração partido. De fato, na base do altar se encontram várias flores de plástico, fotografias, terços e objetos pessoais. 

Uma das histórias mais contadas diz que Lucia era uma menina que morreu aos 16 anos de idade. Filha única do príncipe de Ruffano, ela casou contra a própria vontade.

Pouco tempo depois ela contraiu cólera e morreu em 1789. Visto a triste história de amor da moça, as solteironas começaram a pedir um marido à alma de Lucia. Por isso o crânio é coberto por um véu de noiva. Durante as últimas restaurações da igreja foi encontrado um vestido de noiva, certamente proveniente da promessa de alguém para Lucia.





Cimitero delle Fontanelle

Aliás, Napoli é a única cidade no mundo onde um cemitério é visitado como atração turística. Localizado no Rione Sanità, um dos bairros pleno de história e tradição, no passado existiam muitas fontes nesse lugar, que deu origem ao nome: Cemitério delle Fontanelle ou Cemitério das fontes.

O Cimitero delle Fontanelle, um ex-ossario que se estende por mais de 3000 metros quadrados, contém um numero impreciso de sepulturas. Escavado na rocha, sua particularidade não se encontra em nenhum outro lugar. Em cada canto há uma lenda, uma anedota ou curiosidade.

Ligado à história e aos infortúnios do povo napolitano, o Fontanelle teve início no século 16. Antes os mortos eram sepultados nas igrejas, porém devido à falta de espaço as antigas ossadas foram transferidas para as pedreiras junto às fontes.






Quando a peste que assolou os napolitanos em 1654, doentes mortos eram levados para serem enterrados em grandes valas cavadas do lado de fora dos muros da cidade. Devido à falta de uma sepultura digna, a população passou a edificar igrejas nos cemitérios, onde centenas de cadáveres eram empilhados.

Através dos anos o Cimitero delle Fontanelle se tornou o local central para os mortos. Por muito tempo o cemitério permaneceu abandonado, até que em 1872 Dom Gaetano Barbati resolveu colocar em ordem o ossário, que pode ser visitado.





Catacumbas de San Gaudioso

Também no Rione Sanità encontram-se as Catacumbas de San Gaudioso, que são as segundas maiores de Napoli. A entrada é feita através Basílica de Santa Maria della Sanità, na Piazza Sanità.



  



As catacumbas foram estendidas após o enterro do bispo norte-africano Gaudioso depositado no local no ano 451 e incluem tanto elementos cristãos como elementos primitivos do século 17.






De um lado, a intensidade dos primeiros elementos cristãos, como o túmulo de São Gaudioso e os afrescos e mosaicos dos séculos 5/6. Do outro lado, as sepulturas especiais reservadas aos nobres, datadas do século 17. 

Os valiosos afrescos e mosaicos das catacumbas de San Gaudioso apresentam muitos símbolos amplamente utilizados no início da era cristã, como o peixe, o cordeiro e as uvas com ramos.

Devido às numerosas transformações nas catacumbas, que ficaram abandonadas por muito tempo, é difícil determinar com certeza a extensão e o número das câmaras. Uma parte delas foram preenchidas para a construção da basílica. 

Durante o século 17 esse local era destinado apenas às sepulturas de aristocratas, nobres e do clero, cujos túmulos eram criados seguindo um procedimento especial.

Os crânios eram colocados em exposição nas paredes, enquanto o resto do corpo era pintado com afrescos, geralmente com roupas e instrumentos profissionais que representavam o status social do falecido. 

Uma curiosidade é que, o pintor dos afrescos deixou escrito que se recusava a ser sepultado nesse local. O ator Antonio Curtis, vulgo Totó, se inspirou nas catacumbas para escrever seu livro "A Livella".





Catacombe de San Gennaro

Na subida para Capodimonte, ao lado da basílica da Incoronata, encontram-se as Catacumbas de San Gennaro, que se estendem por mais de 5.000 metros quadrados. Extremamente ampla, praticamente é uma cidade subterrânea escavada na colina de Capodimonte.

Apenas uma parte está aberta aos visitantes, que sempre são acompanhados por uma guia. Diz a literatura oficial que, de acordo com as leis gregas e romanas, era proibido enterrar os mortos dentro das muralhas da cidade, razão pela qual as catacumbas teriam começado a ser escavadas na colina de Capodimonte , que era desabitada.






O antigo cemitério foi desenvolvido ao redor das sepulturas de uma rica família romana por volta do século II e foi se desenvolvendo ao longo dos séculos. Após o sepultamento de San Gennaro, todas as pessoas desejavam ser sepultadas junto da tumba do santo.

Esse é um dos fatores que contribuíram para que as catacumbas se tornassem tão grandes. Hoje há cerca de 3000 tumbas, mas calcula-se que existam muito mais, pois ainda há muita coisa para escavar. Ao longo dos séculos os corpos foram transferidos para os cemitérios e por isso as tumbas estão vazias.






As diversas câmaras interligadas e distribuídas por dois níveis foram construídas abaixo do solo. Acredita-se que em algum tempo o nível superior das catacumbas tenha sido um privilégio apenas para as famílias mais abastadas.

Essas catacumbas tem grande valor histórico, mas também artístico devido aos afrescos e mosaicos encontrados em algumas tumbas, que serviam tanto para decorar a tumba, quanto para identificar a idade, a classe social e a profissão das pessoas enterradas ali. O ambiente escuro e frio é iluminado por luzes discretas para não eliminar o misticismo dos corredores subterrâneos.





Basílica de San Pietro in Aram

A morte em Napoli é uma coisa séria, mas nunca definitiva e os lugares dessa devoção além do Cimitero delle fontanelle e da Igreja de Santa Maria das almas do Purgatório in Arco, mas também na Basílica de San Pietro in Aram, que guarda uma história antiga e misteriosa.

De acordo com a tradição, a Igreja de San Pietro in Aram preserva os restos mortais de Santa Candida, cujo crânio se tornou o objeto de veneração. O crânio encontra-se em um pequeno nicho ao lado do altar da quarta capela da igreja. Construída em 1650, a cripta com arte paleocristã está localizada abaixo da igreja.





Complesso Monastico Santa Maria La Nova
ARCA - Museo de arte religiosa contemporânea

Porém algo mais sinistro encontra-se junto à monumental Igreja Santa Maria La Nova. Situada nas imediações da Piazza Bovio, na verdade essa igreja é um mosteiro franciscano que existe desde o século 13.

Em 1268, quando o rei Carlo I d''Anjou decidiu construir o Castel Nuovo no local da antiga igreja, ele cedeu para os frades outro local para construir uma nova igreja. Assim a nova igreja, que antes era chamada Santa Maria ad Palatium, mudou seu nome para Santa Maria La Nova.






Construída em 1279 em estilo gótico e reconstruída após danos provocados por um terremoto e uma explosão, hoje a igreja tem em seu interior uma bela decoração feita com painéis que datam de 1600, além de muitos afrescos e pinturas de artistas famosos.

A igreja faz parte de um complexo monástico, no qual existe um espaço destinado ao ARCA - Museo de arte religiosa contemporânea. Chamado de Claustro San Francesco, parte dos afrescos que representavam as cenas da vida do santo se perderam.





Mausoléu de Drácula em Napoli

No claustro menor, conhecido como Claustro San Giacomo, ainda pode-se ver um ciclo de afrescos onde encontram-se vários mausoléus. Em um desses mausoléus estudiosos da Universidade da Estonia afirmam estar os restos mortais do Lord Vlad III de Valacchia falecido em 1476.

Sabe-se que o Lord Vlad III desapareceu na batalha enquanto lutava contra os turcos, porém há uma teoria de que teria sido enterrado no mausoléu do Claustro de Santa Maria La Nova. Se esse fato é uma lenda, ainda não se sabe, porém há pesquisadores que dizem que os relevos esculpidos no mausoléu que reforçam a teoria.






O Lord Vlad III de Valacchia pertencia à Ordem do dragão, por isso tinha o alcunha de Drácula que significa "filho do dragão". No citado mausoléu há uma escultura em mármore onde aparecem os dragões. Ainda que tudo isso seja apenas uma lenda, há quem afirme que os restos mortais de Drácula estão no mausoléu do Claustro em Napoli...






Porém Vlad III, também conhecido Vlad Tepes ou Drácula não era um vampiro. mas sim um guerreiro que tinha como missão defender o catolicismo e o império contra os muçulmanos, turcos e otomanos. Dotado de muita coragem, Drácula também era conhecido por sua crueldade extrema com seus inimigos políticos e militares.

Sem piedade, ao capturar os seus inimigos ele pessoalmente os empalava e os deixava morrer até perderem a última gota de sangue.  Enquanto suas vítimas sofriam, ele brincava e se divertia. Conta-se que por ter matado 100.000 pessoas, ficou conhecido como um "vampiro com sede de sangue". Em 1476, durante um combate Drácula foi capturado e morto, mas seu corpo nunca foi encontrado...












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Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.